Seu senhor, o dono de si observava ele. Ele estava cabisbaixo, com um copo na mão. Ele não conseguia se observar, nem pensar racionalmente, nem tentar se conter. Ele tinha se deixado vencer. Corriam as lágrimas, soltas e alegres de sair daquela mágoa que duravam meses. Elas respiravam os poros da face dele, faziam seu contorno, acariciavam seu olhar triste. Alguns o viram, muitos nem sequer perceberam o mal dele. Não importava afinal. Não importa a ninguém. Ele o observava de longe, pensando no que fazer se ele desistisse da vida. Afinal, nada fazia sentido e eram sentimentos demais para não fazer nada. Ele ia fazer alguma coisa. Estava fraco demais, mas forte o suficiente pra não deixar seu copo que, apertado, segurava na mão. Então tocou a música, ele saiu dali, enxugou o resto da dor e se foi. Aquilo tomou conta dele e ele se sentia melhor, ou pelo menos, menos incompleto. Eu enfim me aproximei, compartilhando a mesma dor, ofereci uma bebida como oferenda. Ninguém falou, eram silêncios demais em todo aquele barulho. Palavras não ditas, dores que jamais serão expostas, feridas que se curam com rancor, álcool e reticências.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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