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Mostrando postagens de junho, 2021

O bom inseto

Um mundo colorido, era o que ele me prometia. Infelizmente não acredito mais em unicórnios. Hoje o mundo ficou cinza. A música se foi com ele. Amigo que nunca troquei uma frase. Ele se foi. Um plano espiritual o aguarda. Ou será virtual? Essa realidade que nos teletransporta com todos os jetlegs possíveis. Os vivemos como se fosse normal sentir o cansaço. Os cabelos brancos chegam, as despedidas iniciam e, a vida sonhada, nunca começou. Ou será que hoje apenas vejo o copo mais vazio do que o costume? Será preciso sempre o ver meio cheio? Não sei, vos digo, pois eu mal sei do que cabe no meu espaço apertado que vivo. E gelado. E meio sufocado. E cheio de teias. E bichos cheio de pernas que carregam meus restos. Como todo bom inseto.

Desconexo

Ela desceu do carro. Atravessou a rua. Pegou a bolsa surrada de couro barato. Em seus saltos altos, seu corpo se elevava. Assim com sua alma após três doses de tequila. Já dentro do recinto olhou ao redor. Observou. Ele. Chegou perto, disse: - Uma dose generosa de whisky.  Observou ele colocando miseravelmente as pedras de gelo. Se assustou! - Não, por favor, sem gelo! O atendente a olhou resignado, mulheres são fortes. Não precisam de gelo.  Ela segurou o copo entre unhas bem quadradas. Sentou em um local próximo a parede, iluminado fracamente, queria terminar aquele capítulo. Tomou mais um gole. Madeira. Amargo. Delicioso. Sentiu o cheiro novamente antes de se afastar do líquido ocre. Desejava estar lá naquele mundo. Tudo mais fácil, finais mais felizes, dores explicadas, com diálogos que faziam sentido. Onde pensamentos entre personagens faziam conexões efêmeras, vis e sem sentido. E passado mais uma ou outra página, ela estava quase se derretendo com a veracidade de fatos inventado

Manso

Acabaram, palavras. Ficou um suspiro perdido no meio do teu universo. Eu esperava te ver brevemente... então corri na rua que acabava logo no teu primeiro olhar. E que esquina estranha tu tens, acredito que a curvatura de seu maxilar sombreava tuas ondas sobre ombros curvos. E adorei quando teus cílios me tocaram levemente... uma falta de ar e completude. A contradição que me faz buscar amar. E não falo mais... pois tu se cala. Não há reciprocidade quando apenas um busca sentir. E que loucura seria, te segurar para sempre entre meus braços. E ainda, não importa o toque. Um amor por uma cerveja gelada. Um doce por um beijo amargo e cheio de sentimento. A tua busca por si mesmo verso meu, que se repete, uma busca que se perde entre sinônimos errados.  Me liga. Me desliga. Acabou o que nem começou. Acredito que meu violão quebrou. A música finaliza num timbre oriental. E acho que detesto detestar. Ainda ontem, como teu olhar me dizia, a gente combina. E nem combinamos nada. Mas nada pode

O leve vento que retornou

Um dia escrevi sobre ele, leve e também tempestuoso. Hoje penso nele como um leve sopro que nunca estará completo no meu peito. Minha sensibilidade a meus desejos, aqueles intensos, hoje eu tento os domar, como uma grande guerreira que compreende que se curvar aos limites é a única maneira de não se sentir derrotada. E os domo a cada cinco horas que toca meu despertador. Cedo pela manhã, levanto e me torno viciosa em abrir esses olhos de pitanga e observo o que almejo... distante, longe de mim. E meus olhos se fecham numa pequena oração interna que descobri ainda ter, aquela fé que é do ser, que não está ligado a deuses e crenças, a fé em mim, que energias talvez me levem além... mas se eu pudesse chegar próximo desses sonhos, estaria quase dormindo, de tão sonhadora estaria. E leve, como a pluma que me permito ser, eu rodopiaria... e leve... como um suave suspiro... que bate entre minhas pálpebras, daqueles beijos que nos dávamos com os olhos.