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Mostrando postagens de setembro, 2020

Oito para sete ser

Hoje são oito dias daquele que era tão caro para mim. Hoje, digo que cresci, mas ainda não suporto ser tão baixa. Hoje, apesar da altura, não alcanço mais nenhum palmo à frente. Dias são assim, que me vejo contando ainda todos os dias que são raros e únicos. Ainda te vejo e desejo. E ainda, silenciosamente, me espreito naquele lugar que foi nosso. E sinto. profundamente, sinto. São aromas que te deixava na boca, na barba e nos cabelos fartos, com banhos longos e carinhos demorados. Ainda sinto e espero, calada, amordaçada pelo impulso de outrora, hoje não. Hoje falarei de ontem, que nem lembrava que eram nove. Oito restam, para sete ser. E mesmo os anos que se passaram, nem breves ou longos, hão de me deixar mais feliz que o presente que me dou agora, sendo eu assim tão feliz e alegre comigo e com todos que me adoram. E sou, mesmo ainda aguardando a peça chave de um motor que ainda não partiu. E talvez ele apodreça, como está o carro de família, ao pó, ainda sem funcionar, por falta de

Do teu alto

Me ouça atentamente: Eu nunca me fiz tua Me ouça delicadamente: Sou teu sussurro ao pé da orelha Sente e atente-se Subo por tuas costas e monto Uma corcunda agora criamos e eu, por cima, grito em alegria Quando levanta-se: "iiiirrrra! O mundo daqui é gigante!" E lá do teu alto Eu amasso teu cabelo, que, ao ser tocado pelo gigante fica avermelhado ou um ruivo desbotado e eu amo tons de fogo e amo os tons frios pois há sempre os ciclos que ainda adoro percorrer entre intensos azuis e verdes e os ocres e rubis de toda terra.

Me desgosto de tu

Ele era tão óbvio e prático, simples e fixo. Nada mais nele se mudava, tudo no que se agarrava era a omissão de sentir. Não transparecia para não se machucar e, assim, se manchava entre os vermelhos da dor criada e interna, alimentada pelo seu ambiente conturbado e disfarçado de lar. O coração batia no peito, mas ele abafava entre o deixar pra depois e o esquecer pra fingir nunca existir. Ele era assim. Simples por fora. Tinha aquele olhar que tudo te dava. E mais um mundo inteiro seria criado em poucos momentos cheios de presença e entrega, se quisesse. Não durava, entretanto. Inconstante, desgostava logo nas primeiras dificuldades alheias. Desgostava de tudo e facilmente julgava ser superior a tudo, na verdade, consequência de querer ser aprovado como o bom samaritano que nunca faz mal. Causava danos irreparáveis e não assumia os quereres que quis e escolhia. Egoísmo há um nível mascarado. Dizia fazer tudo por outros e que se deixava para depois. Em realidade, essa atitude servia par

Folia de Nina

Era toda ela. Bagunçada, saía assim de meia e chinelo para a rua. Comprava agora com sacolas de pano e chinelos havaianas uma ou outra verdura na esquina da casa que ninguém habita. Sabia que seu cacho de cabelo que caía atrás da nuca nunca iria crescer, era só o amasso da noite mal dormida. Duas lavadas e toda curva ia embora. Sabia que volumes eram feitos de aparências, uma miragem que o olho cria para ser bem aceito por si mesma. Nina, seu nome de velha, há anos não usava. Nina, a dona da tabacaria e a dona da cantina. Nina, a mulher que andava de sacola pela rua, carregando lãs e geleias para os netos. Nina, a mulher que seria um dia. Nina, agora é tia, mas ainda pensa ser uma mamis de outro ser, para fazer crescer e crescer junto, dando tudo e nada e sendo o que precisa para cada um, com limites e infinitos eternos e genuínos. Nina não pode jamais imaginar demais, pois assim gera expectativa e planos são vistos com maus olhos por todos os seres humanos que vivem na era digital, o

Órbitas

- ssshhhhh... faça silêncio. Está vendo? Aquele espaço antes de eles lançarem voo? Vê? É o limiar de um destino traçado e todos os outros possíveis.  - Quero você, você me quer? Estão olhando? Os dois pensam em uníssono: um pensa além, já com mãos sobre a massa amarela, o outro, vê que não se pode continuar sem eternizar momentos.  - Nos quero. Percebam, neste momento ambos trabalham em conjunto e com objetivos similares. Eles possuem o querer comum, mas ações independentes. É assim que eles seguem próximos. O comum é o que aproxima e também o que deixa se sentirem diferentes. - Vamos. Eles andam juntos agora, mas amanhã não mais. E seus mundos são órbitas que, em ciclos, se tornam próximas e se conectam, mas dado o tempo, o senhor de todas as voltas que damos, conforme ele passa eles se distanciam e, novamente, se afastam. 

Criança

Criança pequenina me olha: folia!   Criança, lindinha, me ocupa destrói!   Criança brabinha me bate acarinha!   Minha pequena, minha pequena me devolve meu amor que se irá contigo   amorzinho, pra que chorar? Só me retire quando for já grande e não couber no peito pronta pra desbravar!   Por todas as horas que irás chorar Lembre, pequena criança Que crias toda ânsia e alegria que vais vivenciar   Cria! Anseia! Passeia pela vida, Sintas cada coração E os toque com olhar curioso (cuidadoso) todos os carinhos que vierem   Assuma teus atos, cria Assuma teus sonhos, corra Amontoe lembranças Amontoe palavras de gratidão   E os solte por todos os lados Para todos que importam e não guarde nada além de sentidos belos   Só belos, dentro de ti.   Crie espaços pra voltar E quando não souber, Estarei aqui pronta, com meu colo, Toda tua, Carinho.

Alegria

Ela abre a porta do carro. Corre até o próximo elevador. Estampas nas paredes relatam uma personalidade distinta, nunca vista por ninguém. Atravessou a sala, ligou a televisão. Era sua casa? Não encontra nada para ver. Pega no sono, tentando entender onde estava, se estava. Sabe, ela acorda toda hora da madrugada, meia-noite mais cinco ou seis, penando em o amar. Chega, sem avisar. Desnuda ele de todas as vezes, não o acorda e nem concorda, apenas o desperta suavemente, o encarando como nunca antes. E não percebe, mas ela também dormia. Não entende o que faziam. Dormiam? Sonhavam? Ela adormecida ainda, não sabe se sonhava ou só lembrava do perfume. Mata e verde. E nada agora existe. Mas tudo que a rodeia é alegre. E amarelo retira os guardados do armário. Nada mais sufoca. Nem cobertas, nem olhos cansados. Apensas toma cuidado para não o acordar. Apenas deixa a vida seguir os rumos. E delicadamente, o toca, toda noite, esperando ele adormecer. Louca por o retornar em breve. Em breve. A

Energias ao vento

 Não é justo escrever-te tanto. Imagino. E escrevo tu junto a mim. Assim é fácil. Tu me aconchega nos teus braços. Estamos assim: sentados de fronte a uma imensidão montanhosa, teus braços, fortes, me enlaçam e meus braços reforçam esse abraço. Tuas pernas se enroscam ao lado do meu corpo. Me sinto não presa, mas segura. E é gostoso o calor que criamos. Não, essa imagem é de um tempo ameno, onde o vento leva meus cabelos de forma leve e sem agressividade para os lados. Teus braços estão à um palmo da minha boca, e meu nariz consegue sentir teu cheiro. Não é doce. É cheiro amadeirado com frutas cítricas. Perfeito. Se eu prestar atenção, consigo sentir o sangue correndo no teu peito. TUM. TUM. TUM. Minha cabeça vira preguiçosamente. Não falamos nada. Só estamos assim, nos admirando além, como um só ser, deixando o vento levar tudo de bom que juntos criamos para o mundo.

Águas passadas não movem moinho

"às vezes a ansiedade chega como uma tormenta cheio de espinhos e lágrimas. Aprender a lidar com o que nunca se quis: afastamento. Desesperadamente afastar sentimentos, afastar-se de si mesma. Como fazer isso sem se destruir? Como me tornar menos vulnerável? Como não pensar demasiado? Quais técnicas existentes poderiam ser cabíveis? Eu sinto, eu sinto. E não consigo não sentir. Só queria sentir menos, que inveja tenho às vezes dele, que não, não sente. Ou... seria apenas pena? Fazer isso é triste. Afinal, o afastamento é nossa escolha. Nunca consigo, pois é simples. É só estar e ser. Queria sentir raiva. Raiva  dele. Raiva do que fez e do nada que ainda faz. Nada ele fez para existir, não, resistir a essa época, a essa doença e esse mal do século. Não era amor, se não amar suficiente é isso, não é amar. Amor supera, amor perdoa, amor acalma e amor chega sim, ele se torna o que precisa ser. Que raiva queria sentir ao invés da angústia. " Releu aquele trecho do diário por algum

Vidas Mortas

Foram duas vezes que eu falei! - Vira a esquina. O motorista olha de relance sobre o espelho retrovisor.  Eu já disse para ela, mas ela insiste nisso. - Obrigada, poderia me aguardar apenas mais dois minutos? Só  irei comprar um maço e já retorno. Ele confirma balançando a cabeça. Ela vai lá, mas depois vai me ligar, eu sei que vai! - Com licença, gostaria de um Lucky Strike, por favor. Ele entreolha sobre a vitrine, percebe o pacote sendo entregue, baixa os olhos, obediente a uma causa desconhecida. Essa mulher! Mas que grande idiota! Vai por tudo a perder! - Siga pela Avenida Protásio Alves, por gentileza.  Já estava com o som ligado, mas decidiu trocar a estação, neste momento, uma senhora atravessa a rua com um poodle. Ele observa esse cachorro. E o sangue, lembra do sangue que um dia escorria pelas mãos. E toda narrativa muda. Os três personagens finalmente se conhecem, tomam uma cerveja, reunidos em um bar. Triângulos, simplesmente por gostar, era sempre triângulos que uniram ele

Atravessando cimentos

Hoje acordou. Cílios pequenos caíram de suas pálpebras. Todos os fios, pequenos e recém nascidos, caíam. Esse sentido de ser breve, é a condição que poderia manter em constância. Constâncias que não julgava. Não julga. Afinal, constância é sobre ser cíclico. Não? Nasce, cresce, e, por sorte e ou por acaso, morre. Hoje acordou. Amanhã não sabe se a sorte será a mesma. E mantém-se na constância. Sinônimo de ser isso, lealdade de não desistir. Não, persiste. Insiste. E toda vez que uma parte de si cair, outra renascerá. Por isso o ciclo. A vida morre. A vida renasce. Um alimento entra. Outra matéria sai. Uma cadeia cheia de entrelinhas. E dessas matérias que vamos deixando, cria o líquido que acompanha esse cílio. Toda noite, um cílio cai, acompanhado de seu eterno amante: salobre, líquido, que o acompanha até as partes rosadas da face. E fica lá. Até o amanhecer. Enquanto a cor vívida do cílio vai sumindo, a gota seca, até colar pele e fio. E quando abre os olhos, nem lembra do que acont

Ela apareceu, enfim

E para quem Anita olha, é olhada de volta: olhos, grandes, com sorriso meio escondido, meio aberto. Anita, que antes mesmo de ser pop era uma solita, que dos olhos claros tua luz refletia, ela nunca viu nada além de um palmo do futuro. Anita, diria a ela se estivesse aqui: olha o cara! Ela, infelizmente, era uma dessas que ignorava. E provável ainda que enquanto vos falo, está lá, ignorando até minha existência. Anita, a rebelde. Anita, a ingrata. Anita, a que não suporta. Ah, Anita! Pira! Para que te quis??!! Anita que provoca, mas antes de um corpo e matéria, ela sempre foi palavra, muda assim mesmo. Pequeninha de um pouco mais que um metro e meio. Anita não era por ser pop, para quê mudou meu nome? Ele era bem melhor sem fama, sem associações ao funk . Ela era uma balada de movimentos escassos: rodopiava e subia e descia e se jogava, até de ponta e de cabeça, entre fumaças e seus cabelos, ficava. E seus cachos, que eram a parte dele que ela agarrava, viravam ondinhas entre seus dedo

Para o futuro, esqueça

Não me prometa que me amarás para sempre, pois esse mundo está incompreensivelmente egoísta para promessas absurdas. Não me diga que me amas, pois essas palavras já não farão nenhum efeito e nenhum impacto em minha alma, cansada, literalmente, cansada de promessas vazias. Não, não me digas que amar será solução para resolver qualquer problema. Eu não acredito mais em amor. As fantasias foram jogadas fora. Nem s ex and roll é capaz de me avivar para esse termo humano supervalorizado, não. Chega de aventuras românticas, eles me tiram de mim e deixam essa sensação de ter sido atropelada quatrocentas e quarenta e três vezes em uma única fração de segundo! Eu estou acabada e desiludida, sem animação e sem maçãs para o amor. Nem a plateia desse circo seria capaz de rir comigo. Até palhaços alegres iriam chorar junto de mim, à sarjeta, se lhes contasse que não, ninguém ligou. Ninguém. Nem um ser liga. No fim, estar só é uma dessas condições óbvias, mas, acima de qualquer respeito improvável,

Nunca recebeu anéis

Eram três horas e quarenta e sete segundos. Nessa hora exata, ela acordou: sobressaltada, revirou por sobre a mesa de cabeceira. Onde estava? Tateando, derrubou dois livros sobre um tapete colorido, aquele tapete feito na praia de Garopaba, que, um dia, compraram juntos. Hoje, ela tateava o escuro, não usava mais óculos, mas ainda não enxergava tão bem. Ainda mais no escuro. Conseguiu resmungar uma "merda", e tentou se levantar da cama. Pisou sobre algo: crack. Algo estalava sob seus pés, provavelmente o resto de uma bolacha largada pelo chão. Não limpava aquele lugar havia tempo. Enfim, encontrou o abajur. Ligou. Juntou os livros caídos. Pegou seu pé, olhou  sua sola: retirou os restos de farelos, visualizou sua marca de nascença. Um ponto bem ao meio, um ponto. Como se tivesse sido ali o começo de tudo. Pés. Um ponto por começar, um ponto para continuar. Pés são muito esquecidos, normalmente as pessoas os ignoram. Ela tinha carinho por pés, eles suportavam muita carga. Não

Sou frio

Sou frio: Possuo gelo sob camadas Em trinta camadas de pele fria. Provavelmente gordura que resfria. Que acumalaram-se Em belas paisagens, sinuosas, do meu corpo. Passagens do memorial Escolhido para rimar Entre tons brancos: Cremosas lembranças, Delicías de chocolate quente E cobertores que cobriam Meu rosto: apenas olhos arregalados.   E brancos dos olhos, que representam a brancura do meu frio Tu é frio. Sim, sou frio, sigo frio. E já não acordo de frio Aprendi a dormir com frio. E assim, cresci mais fria. Sempre fria. Entrando em frias, feridas.   Que bonita, azulada assim, azul de tanto branco Branco de gelo. Gelo transparente que some, com bafo gelado.  

Não entendo.

Hoje temos computadores, notebooks, tablets e chicletes. Todos cabem nessa mastigação virtual, completa, transportável, fluida e escassa de profundidade. Em todo momento bits e bites e gigas e rams e coelhos por portas e buracos desconhecidos se encaminham pelo meu e pelo seu momento. E dialogando de maneira tecnológica eu possuo um determinado conhecimento e limito-me a pensar que não deixei mais nada de fora: estou no mundo de eras do tec do pop do agro e do Tá, ok?! e não, amigo, isso pode soar irônico, mas um dia ao reler-me ieri rir dele. E sempre. Hoje é de riso nervoso. Amanhã será de ter duvidado. Hoje escuto blues, pop, eletro, samba, pagode e rock e soul e clássico e orquestra e Trumps que propagam chamas por entre uns e outros e a raça virou cor e ser humano não é raça é modelo e cor vira status e brancos e pretos se matam e, eu, azul, não me encaixo. Não me encontro mais mulher, mas nem menina, nem moça, envelheci, devo já ser idosa e se possuir alma, como assino, devo ter

Nova em folha

Nova em folha, disse eu. Estou nova em folha. Os anos daquela cidade, pequena cidade, ainda continham os verdes que inicialmente a criaram: por todos os lados era verde, mas acima de tudo, o azul do céu (e os rosas e alaranjados) cobria a moldura visível. Na imensidão de Lugar Algum, eu caminhava, durante dois fôlegos errados, respirei por locais indevidos. Na verdade foram três lugares. Mas esses lugares hoje não me cabem. Ou eu não caibo mais. Às vezes crescemos por todos os poros de nosso corpo, de uma maneira quase impossível de se retornar ao tamanho inicial. Prometo. Prometo que na vida futura, quando e se ela retornar, essa vida será melhor. Eu vivo de uma promessa que larguei num tempo e que não sei se o destino chegará. Alguma voz me disse que sou aqueles destinos, os destinos a qual estou prometida. E, mesmo que seja destino ser nova e ser folha, que eu seja verde, mas acima de tudo, que meu azul nunca desbote no meu coração frio. Que seja meu destino assim também frio e azul