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Mostrando postagens de agosto, 2020

Ela, foi-se

Não estou disponível: vagou nenhum espaço entre os laços que desfiz. Sobrou somente os rascunhos inacabados dos planos e trajetos que foram esquecidos no silêncio da tua noite eternamente escura. Não, não é frio lá, mas é sombrio. E agora, depois de seis horas do ocorrido, não estou disponível para mais uma trilha. Mais uma, última, talvez? Não, não, não consigo... Só consigo a sororidade, que cansada, tenta ainda florescer para elas. E, com perfume de alecrim, saboreio o que os campos verdes ainda me dão: um lugar calmo, pouco antes do verão, mas não no furor da primavera. Um meio termo que me persegue, entre o passado e futuro, em um presente não aberto por enquanto. Lê o bilhete, relê o bilhete. O trêm partirá amanhã as 21h.  - A bagagem está pesada? - Sim, mas consigo carregar. - Eu te ajudo, me dê aqui. - Não obrigada, preciso carregar meus pesos. - Tu não precisa seguir assim... sabe, algumas pessoas ainda estão dispostas para te ajudar. - Eu sei, mas eu não estou mais disponível

Flutuante

Era uma imagem para congelar: a chuva batia suavemente nas flores do inverno, essas mesmas, que estavam iluminadas por um clarão amarelado. Postes de luz retrô enfeitavam a paisagem, mesclando-se com madeira recém pintada e o verde que segurava erosões do rio que corria logo atrás. Com outros olhos, de outros olhos, em outros tempos, a imagem seria assemelhada a um filme de terror, mas não nessa noite. Aquela noite ela percorria a calçada com passos largos e um capuz por sobre a cabeça até que as gotas não estavam mais somente no chão, mas na sua alma, cada gota batia por sobre ela e a fazia sentir por todo seu corpo a sensação mais prazerosa que a nutria. A purificação do ser vem nos momentos que menos esperamos, foi do momento que ela se deu conta da vida que sentia dentro de si, e como um êxtase, viu-se para além dos passos e das pegadas úmidas: ela se viu flutuar na própria intensidade que carregava. A sensação de flutuação com um momento era uma das raras coisas que a faziam senti

Foi assim que a conheci...

Andou na noite ao lado dela Ela disse Que mané E, aí?! A lua brilhou. Umas duas estrelas nasceram, de um para o outro... E na noite mais verde do mundo As mãos não se tocaram Cabeças de lado Escalava: Ela pisava em seu pé E ele por justiça também pisava no dela Enquanto toda noite brilhava E sons ouvidos ao pé do ouvido Diziam que o mundo era deles   Hoje a lua não brilhou Perdeu o brilho que possuíra Deu de presente para um acaso Não sabe-se mais onde está... Onde está seu amor?

Essa é de três anos

A garganta fica esquisita quando vomita. Fica roca, fica azeda. Assim ela dizia. Ela dizia, olha, anda, mas vê. E ela dizia também que era pra ficar. E ficávamos juntos. E ela dizia caroço que coisa boa e ela dizia que coisa que nada. Que coisa o quê? Caroço é bom, abacate é melhor.

Tão leve quanto uma tonelada

Era uma conversa leve que tínhamos. Nunca fomos de fato amigos. Eu não sei bem como ser amiga de terceiros. Tu é terceiro. Não foi primeiro e nem segundo. Profundidade precisa de substância. Densa, geralmente, eu sou. E às vezes, eu danço. Mas só pra tentar manobrar o fato de ainda ser pesada. Há, dou risada das rimas que ainda invento. A conversa, enfim, acaba e os amigos, são deixados de lado.

Postado silenciosamente na caixa de correio.

Não quero nada não. Nada que não tenho pego, nada que não tenha sido caro. Eu quero viver, sim. Viver por mim, por nós e um futuro. Quero visitar teu passado e sentir tudo. Sem dor. Só passar e sentir e deixar ir. E quero viver, sim. Quero viver teu agora, meu agora, nosso agora. Não, não! Eu não sou nada agora, nunca fui nada, de fato, sempre fui muito mais e não vi por um tempo, mas só por um tempo. Só me ceguei brevemente, errada? Talvez, foi preciso os arranhos. Eu te avisei que era passageiro. Na verdade, é inevitável ver um olhar felino e não me teletransportar para aqueles momentos dos quais existia apenas nós. E todo o ar esvaía-se. E nossa vida era fácil. E todos os problemas do mundo não existiam. Eram apenas nós e bastava. O suficiente. Nos formamos em um só e deu nó. Deu nó daqueles difíceis de deixar ir e carregado de sentidos. Sentia muito, hoje tento não sentir, pra não doer. Mas ainda sinto o bom. Seja bom, mané... e caminhava ao contrário na passeata, cantando músicas

Teu norte

Meu norte é o mesmo do teu sul que acaba e inicia no meu norte E acaba Tudo acaba No ciclo Ciclo cic- lo ci-lada co-lada em memória Pela geo Local Do teu outro sul, sim que ruiu ao me ver chegar E teu sul chega no meu norte como um mote de ir de vir e bastar.