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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Lealdade ao (ap)ego

Duas doses de abandono, três ou quatro esperas nunca contempladas. Esperei mais um ano e ele nunca chegava... seria o destino para me dizer que já bastava? Abri a gaveta, peguei aquele pacote onde encontrava os merecidos botões desse suspiro passado, não haviam rosas nem flores e nem cheiros, eram apenas uma folha seca e sem vida... e antes que pudesse perceber estava afogada pelas memórias... e ainda que não sentisse estava absorta no teu pensamento. E um novo pensamento me adentrava... Tu  me chamava ao longe, muito longe, entre terras que nunca explorei e, eu ia, facilmente, encantada, cheia de vida e de possibilidades. Provavelmente te assustei, minha força faz isso. Ou seria minha fraqueza? Ainda fico tentando equilibrar, mas sei, é algo que tende a ser as duas coisas, nem um preto e nem um branco, todas as cores e tons entre os cinzas que tu vês no teu céu... e eu que me encanto com meus tons azulados, vou tentando deixar de lado... mas esse pensar não basta, tu me chama mais, ma

Amoras

Te pediria desculpas, não fosse meu ódio pela humilhação. Te pediria desculpas, não fosse o afetamento que tu manipulou dentro do meu coração. Te pediria sim, não fosse meu costume de agora em diante prezar a leveza e o espírito do louco. Preciso pedir desculpas sim, por mim, por ter eu me deixado de lado. Foi ontem mesmo, naquela esquina de abacates, que vi por último uma possível entrada, apertada, cheia de itens a serem descartados e, pediria desculpas, não fosse minhas preferências agora por amoras. Amoras que me deixam o lábio ardente de desejo, amoras que unem-se para manchar meus dedos. Leveza de frutos que são pretos e são também púrpura, misturam-se cores e lembram-me do azul do céu... Ah... amor era de Às, o primeiro, como a carta diz, mas a mais alta, se assim preferires. Amoras murchas secam pelo chão, apodrecem e alimentam o pequeno pássaro que passeia nos jardins. Te contei? Agora possuo um jardim suspenso, eterno, dentro de mim... não carrego os ódios, nem mais cultivo a

Corpos celestes

Três.  Novas maneiras de manter-se acordado: café, chocolate e livros não funcionam mais. Não quando o enredo da história simplesmente não conecta-se com teu íntimo.  Ele olha para ela e pergunta: afinal, qual motivo que ainda te mantém escrevendo?  Ela, cheia de si, calma e vagarosamente diz: eu não sei... acredito que tenham sido os peixes. Ele não entende a frase. O que afinal eram esses peixes? São comidas ou são imagens figuradas? Seriam os pequenos pães que nos alimentamos ou talvez uma essência religiosa e mística? Ele começa novamente a se questionar, incessantemente, internamente, loucamente... mente. - Ah bom, sabia que poderia ser isso. Ela revira os olhos para ele, monta em seu colo, agarra os cabelos dele, respira logo acima  de sua orelha e de sua têmpora, entre os fios de cabelo que cheiram a madeira afunda o nariz e respira profundamente.  Susurra: não minta, sei que não entende meus peixes. Ele, surpreso, se remexe desconfortavelmente no sofá fazendo ela cair para o la

Como começar o amor?

Afundei o pé na areia. Textura cheia de aspereza. A maresia vinha como gotas de uma chuva que nunca caiu. Fiquei observando dois pequenos brincarem em uma onda, ao longe... Não via sinal de preocupação por parte dos pais. Constatei que o mar e os perigos estavam contornados apenas pelo fato do azul permitir uma boa sensação. O Céu e o Mar, numa simétrica união se espelhavam naquela segurança. O azul... Quando chovia, ficavam cinzas e, assim, o mar também. E a ira dos criadores, se é que existiam, ficavam transtornados também, como na guerra interna das relações. De qualquer modo, as crianças brincavam em paz no azul do oceano. Pequenas espumas se formavam na beira da costa e poderia ser acompanhada até o perder de vista.  O amor daquele um, o menorzinho, era uma miragem. Ele olhava as grandes construções naturais em azul, pasmo, paralisado. Amanhã ela iria relembrar aquela cena bonita, cheia de vida, numa foto em preto e branco. Ela costumava salvar os arquivos em dois tons: cor e pret

A triangular

Um dia de cão, disse ela. Eram três dias cheios de amor. Amor dela para ela e dela para a outra. Um triângulo de amor, feito com carinho da pequena criança, uma menina muito criativa, dizia, que imaginava seu castelo não feito de pedras, mas de vidros, a transparência das relações. A menina corria e se banhava, enquanto a mais velha, cheia de doçura e amargura, naquela contradição atraente e envolvente, não sabia se a elogiava ou se a acompanhava nas brincadeiras. Já a outra, que não era muito definida, ficava no limbo. O limbo do silêncio e do apego. O limbo que não deixava ir e nem chegar. Tudo passava em fronte as três mulheres, que separadas estavam pelos laços temporais de uma vida. Hoje elas se encontraram naquela água salgada, esperando na imensidão do céu e mar um ponto em comum para recomeçar.

Força de hábito

Não tenho preguiça, levanto e vou... acordei cedo e olhei o céu. Vi dois pedaços de nuvens, eram tão parecidos com teu ursinho que fiquei com saudade, mas uma saudade escondida, pois não sinto nada agora. Uma força de negar o que se esconde por baixo da superfície daquela imensidão de água. E tu? Tu me perguntas, o que pretendes após tantos anos sem controlar essa força?  Fico sem entender, pois estava certa que havia escondido muito bem. Aí me lembrei da preguiça, era ela minha fraqueza, se eu deixasse transparecer, os dedos apontados viriam. Bonita, você é bonita, mais uma vez disse ele. Quando deixarás a máscara cair? Não entendo a pergunta e fico imaginando que era da pandemia. Ele ri de volta dizendo, não, não, tu não me enganas, vejo através de ti. Tu te esconde nessa atitude. Que queres, afinal?