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Mostrando postagens de junho, 2019

Sabe o que eu fiz ontem? Eu comi um passarinho.

A pena era branca. Estava jogada num canto do jardim. Vejo também um pouco de poeira contra os raios do sol. Tu já parou pra ver estas pequenas partículas flutuantes e percebe quão leves e lentas e em seus tempos corretos elas chegam até o chão? Como não se desviam de nada, mas seguem o que é proposto? Depois de ter refletido sobre a pena eu precisei me retirar do jardim. Então entrei na cozinha, pra deixar meu copo de água, que escorregou e quebrou. Os cacos foram por todos os lados. Sai para buscar a pá na área de serviço, me abaixo e por costume olho para o jardim, e vi um pássaro se debatendo pelo chão. Penso em ir socorrê-lo, mas não podia deixar os cacos espalhados. Volto para a cozinha com pressa para poder ir ajudá-lo e, acidentalmente, enquanto recolhia os primeiros pedaços de vidro eu corto meu dedo mindinho. Eu sempre achei este dedo inútil, até que o corto e sinto que ele de fato existe.  Larguei tudo no lixo e enrolei um pedaço de pano, da louça mesmo, entre a carne e as g

Sabichão

O senhor refletido que era tão certo de tudo, me olha nos olhos, com olhar sabidamente confuso: - Já não está na hora de tu, menina, conhecer o mundo e me deixar? E encaro-o,  pensando em minha cabeça desproporcional: "seria o momento certo, seria sim, mas não tenho mais com quem ir. Quem iria junto a mim, seguir meus pequenos paços? Querer caminhar junto, numa lentidão profunda e intensa? Ninguém mais está disposto a viver, dizem, corram, corram que amanhã o sol será outra vez o mesmo e o trabalho continua". Quebro ele em mil pedaços, babaca de espelho, não sabe nada!

A barriga falante do Peixe.

Era um grande dia para o Peixe. Todos os tipos de comidas disponíveis. O que será que ele gostaria de verdade de morder? Nenhum Peixe que se preste ficaria com qualquer tipo de comida. A comida do Peixe deve ser de uma refeição extremamente abundante e refinada. Não ouse nunca mais ditar o que o Peixe realmente precisa, pois de hoje em diante, Peixe bom é o que se alimenta quando a barriga falante exige. E se não te perguntaram o que o Peixe gosta, vire suas costas e vá procurar por revistas de Como Comprar Peixes Adestrados e Sanados de Suas Fomes.

Senhor da Morte

Estou caindo na morte. A morte deixa-se enrolar no meu manto. Negro, branco e colorido manto, quente e frio pranto. Foram centenas de  mortos. Foram tantos espantos. E ninguém liga, nem se liga e nem liga pra alguém. Tanto gás e já não olho mais. Muitas lágrimas por isso. Esse gás, esse gás que adentra as pálpebras. Era só uma faísca me disseste o Senhor. Agora, em fogaréu, a estrada incendeia em luzes que machucam. Todas lembram-me que tu nunca mais estará aqui do lado. Escolhas, escolhas. O vulto escuro clama seu espaço. E o Senhor aconchega suas desculpas próximo da partida a vir. A morte, que carrega suas ações, espalha nas mãos lisas a culpa do que fez. O que recebeu, o Senhor se livra, pro bem ou pro mal, é ileso dos seus próprios erros e se satisfaz sendo o destruídor de todos eles. Senhor, Senhor, clamei eu a morte, me vieste sem tempo, me vieste sem desejo, me recebeste sem olhar, me recebeste sem perceber. Grande vazio deixa, quando a morte chega e tudo queima em ilusão. Obri

Ursinho branco

Meu ursinho branco tinha camiseta vermelha inscrito nela assim "amo você" Era tão puro aqueles olhares de vidros bolinhas a brilhar frios de acreditar Felpudo e bom de abraçar tão convidativo aconchegante de estar Sempre estava lá Bastava o procurar Quando dei por mim, cresci Era só imaginação Que Ursinho Branco Já não era tão fofo Cheio de traças por dentro Estava podre há tempo... Cuidado crianças! Pureza não é leveza Tudo vem com um grande preço: Ursinhos tem validade E só te acompanham enquanto tens boa imaginação Afinal, são tuas próprias histórias que os fazem brilhar.