Um senhor uma vez me encontrou na rua e disse que eu parecia o amor de sua vida. Ele me contou de todos os detalhes daquela aventura. Contou-me como a conheceu, como ela o indagava, como ele foi ficando cada dia mais apaixonado pelas suas atitudes, jeitos e caráter. Um dia, disse ele, eu abri a porta da minha garagem, encontrei um pequeno bilhete enrolado junto ao capacho e nele estava escrito que ela não voltaria mais. Havia terminado subitamente o amor dos dois, dizia o bilhete. Subitamente, sem prévio aviso. Assim, continuou o senhor, me dei conta que eu estava cada dia mais distante dela e que por mais que ela se fizesse presente, não a notava. Além disso tudo, o recado ainda informava que os prazos da vida adulta não se aplicavam nela, pois ela era eterna criança. Não se aplica um depois. Depois marcamos um cinema. Depois marcamos um chimarrão. Depois iremos na redenção. Depois iremos dar as mãos. Depois todos saberão. Depois os bois arrumam as melancias na carroça. Eu o encarei e
a que surgiu primeiro.