O tempo muda e hoje eu mudei o mundo do vizinho. É, não faz muito sentido, mas ao colocar o lixo do lado direito da calçada, eu mudei a vida dele. Ao descobrir que ele sempre espionava por sobre os ombros, olhando esticado para meu jardim, eu decidi que ia fazer tudo ao contrário. Ele, um ser que mantém tradições, não gostou muito, como irei relatar logo mais. Apesar de ser um velho rechonchudo e de cabelos brancos, ele sempre mantinha um sorriso maroto por entre as rugas. Deveria ter feito grande sucesso quando novo com as mulheres e, apesar de ser viúvo, mantinha sua vida ativa. Três ou quatro vezes por semana percebia suas saídas de carro. Muitas vezes, porém, constatei que ele só ligava o motor da caminhonete. Não, era aquelas antigas. Não, não era nova. Deveria ser as lembranças da mulher dele. Os momentos. Coisas que atualmente, nós, jovens, tolos, nem sabemos mais apreciar. O fato é que eu percebia as saídas dele pela noite, quando via visitas entrarem furtivamente por seu portã