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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Uma fotografia esquecida de uma menina segurando a mão de um estranho

  Hoje eu olhei pra trás.  Caminhei pra trás. Me senti pra trás. Queria estar adiante.  Colocando os olhos adiante. Adiantado os atos. Foi assim meu dia, fiz um café e tomei ele em silêncio. Em seguida, levantei meu corpo inteiro, quase em um pulo. Me vi na rua. Foi um lapso que me ocorreu, não consigo lembrar o que fiz no meio tempo. Bem provável que estivesse limpando a xícara, a colher, a chaleira, desligando o gás, regando as plantas, cuidando do gato. E mesmo assim não tenho certeza. Poderia eu estar fazendo outra coisa? Eu poderia ter uma caixa secreta sob minha cama, mas não teria espaço para guardá-la. Poderia ter poderes de ler mentes e assim fazer textos de auto-ajuda e guardar ali dentro, na pequena caixa. Ela poderia ser de madeira. Metal? Com chaves? Um código de reconhecimento de voz? Ela só se abriria com uma música? Se eu tivesse a caixa secreta eu poderia não estar tomando café, mas colocando lembranças nela. Ou limpando ela. Ou pensando que eu não t

Entre cortinas

Deitada. Atirada sob uma cama. Visão de dentro: explodindo. Mais uma vez. Mais uma vez… explode. Segunda chance. Angustiada com os sentidos. Sentidos soltos. – Sentimos muito. Eu não posso fazer nada. Ninguém pode afinal. Eu posso esperar. Eu posso ser forte. Não, eu deveria. Eu não sou forte, gastei minhas fortalezas construindo minhas asas imaginárias e elas, bom, elas são sensíveis aos ventos. – Anita, tudo vai ficar bem. Eu não sei de onde tu tira esta mentira. E sim, é uma mentira! Nunca nada fica bem. Tu apenas esquece que algo está errado. Tudo sempre está errado. Tem gente morrendo ali do lado. – Eu não me importo. Bom, eu sinto. Eu me importo. Eu absorvo. – Tu não deveria ser assim. Eu já sou de várias formas, o que mais eu deveria ser? – Não deveria ser. Sempre é algo comigo. – Tu é egocêntrica. Eu sou. – Tu imagina muito. Relaxa. Eu rio. Só que é um riso fraco, não preenche. Lacunas: meios e vãos. Vejo vagar pessoas vãs. Saltos altos, canelas fracas. H

Corrida

321, disse ela. 321, já! Correeeeeeeee! Esbaforida, chega até o outro lado. Cansada. Sua raiva toma lugar no peito. Raiva, sentimento ruim. Raiva é como erva daninha, dizia minha vó. Se tu deixar ela crescer, tu comete os piores erros. Dizem que os velhos sabem das coisas, discordo um tanto, pois nada mais arrogante do que imaginar que só alguns detém conhecimento e outros não. Se eu for imaginar tudo que os outros sabem e aguardar eles saberem, ficarei entediada. Que droga, raiva dela. De novo ela estava lá, com raiva. Ela foi enganada. Ela detesta correr e ficar com raiva. Raiva e calor: sentimentos escorregadios que não lavam sentimentos, mas aumentam as fervuras deles. Raiva, segundo alguns é um sentimento natural. Ela também pode ser uma doença infecciosa. Raiva de si mesmo é algo sobre frustração de algum ato, situação ou pessoa. No fundo é descontrole. Os humanos e especialmente ela, adora controlar tudo. No fundo, ela prefere quando se sente perdida, pois a faz correr atrás de

Caros leitores, eu não ligo!

Eu não dormi essa noite. Não... eu preferi ver uma série de imagens românticas. Na verdade, eu nem sei por que diabos ainda olho isso. Um dia talvez eu volte a ler Bukowski. Ele entendia mulheres, mas era exatamente o homem ogro sem papas na língua, que transparecia tudo e que o deixava óbvio, por pior que fossem seus pensamentos sexistas, um dia ele fora meu autor preferido e o imaginava atraente bebendo e fumando. No momento ele ainda é intragável, pois meus padrões mudaram, eles sempre mudam. Me deparei pensando que meus autores vão mudando conforme minha vida evolui. Já não leio os clássicos da literatura brasileira. Já andei pela filosofia, pelos gregos, pelos americanos e pelos deuses nórdicos. Já li como funcionam as mil e uma faces de um herói e todas as construções brilhantes de personagens. Sei como montar um excelente perfil. Sei como montar uma peça, escrever um roteiro, planejar e organizar meu livro. Um dia gostaria de criar a versão masculina de Ruby Sparks. Faria a adap

Juras

Eu não vou te amar. Juro. Prometo solenemente jamais te amar. Prometo não te apertar até explodir. Juro. Prometo não correr atrás de ti como um belo cãozinho obediente. Prometo te amar só o tanto permitido pelos dois. Prometo também não atualizar minha caixa de e-mail a cada 30 segundos. Prometo que quando digo algo o farei valer. Prometo a ti, mais a mim, que jamais irei ser uma louca sem motivos. Só pelos bons motivos. Prometo que se tu chegar com rosas eu irei aceitar, apesar de achar um abuso quanto a veracidade desse ato, pois o que prefiro são coisas duráveis, como a planta inteira, não seus pedaços podados que morrem em uma semana. Prometo que controlarei meus impulsos de ser pegajosa o tempo inteiro ao demonstrar minha felicidade por receber um ato gentil. Prometo não prometer nada. Prometo que serei imprevisível quando tu vier me dizer que irás querer algo mais sério. Prometo fugir. Prometo ficar insegura. Prometo me arrepender. Prometo que serei sua, mas sempre mais minha. Pr

Errei

Uma vez você me disse que eu não sabia aprender com meus erros. Então, eis que agora aprendi. Aprendi que quem quer se faz presente. Aprendi que quem quer, assume sua responsabilidade emocional quando se relaciona. Quem quer também sabe reconhecer seus erros e para de colocar a culpa no outro, assume suas próprias atitudes, pede perdão. Eu sempre tive atitude. Mas também sempre tive insegurança. Leva um tempo para aprender a reconhecer ela. Reconhecer que ela sabota muita coisa, mas eu sempre estou disposta a aprender... e eu reconheço que minha vida inteira será uma aprendizagem. Não preciso ninguém me julgando e apontando o dedo quando eu errar novamente. Eu sei que irei errar novamente. E tudo bem... sabe por que? Por que eu sou um ser humano. Eu não sou uma máquina que se programa para aprender um erro e nunca mais repeti-lo. Eu irei repetir meus erros sim, de formas mais diversas e com novas esperanças de acertar. Eu quero errar! E não quero mais ninguém me julgando por eles. Ning

Ho, ho, oh...

Renas montadas como ágeis animais domados. Pareciam feitas selvagens, mas domesticadas seguiam os comandos dados. Ele fingia que deixava as rédeas soltas, afinal, que bom moço ele fora. Prendias com nós de amizade, falsos sentidos. As amarras de uma vida escapavam conforme passavam os dias. Nada é seguro, nem mesmo um nó. Nós queimam, nós quebram, nós são desfeitos conforme a maleabilidade de tudo. E aqueles nós em renas eram como grandes conquistas: não se dava um tiro nelas, por parecer uma caçada fácil demais, mais fácil as deixar sofrer aos poucos, enquanto ainda o servem... e quando a temporada acabar, as liberta, pega sua arma e aponta e treina sua mira impecável. Seus olhos azuis e bondosos seguem as tradições: sangue no pescoço, um fio vermelho na neve. Uma tradição como todas são: servem a algo, seja a paz ou a chacina. A maioria de suas vítimas eram gentis e boas, todas as renas são. Elas andam, servem e são fiéis. Também ótimas refeições. Elas preferem se manter vivas e obed

Meu castelo é nas nuvens

Te olho por sobre meu ombro. Tu me pedes para ficar. Eu te encaro, dolorosamente penso que seria bom de fato permanecer. Acordo. Olho ao meu redor, nada. Os meus pesadelos costumam ter mais duração, mas ultimamente não sonho mais. Tenho acordado assustada todos os dias. Não, não temo mais nada, mas isso é comum para sonhadoras. Sonhar algo não muito bom, é como prevenir e antecipar os acontecimentos que são do tempo futuro. Sonhar é algo bom apenas quando palpável e realizável, certo? Tenha mais maturidade, dizem. Dizem que maturidade é sobre saber lidar com os sentidos. E todos aprendem seus sentidos com o tempo certo. Eu costumava aprender rápido e talvez isso me fez perder alguns detalhes importantes, como minha intensidade de sangue nos olhos, ansiando logo eternizar tudo... e de fato, perdendo tempo demais para reparar as obviedades: o tempo não é com o outro, mas sim comigo mesma. E todas as eus. Hoje acorde e comi aquela fruta do pecado, que não era mais vermelha, tempos moderno

Tristeza nunca mais

Eu te transformo E vou direto onde quero E faço o que preciso E tenho o que me atrai O teu jeito é simples Mas minha cabeça é complexa Para acompanhar tantos silêncios Me viro novamente Como uma cobra recém criada Que troca de casca e parece renovada E no fundo é solitária e autosuficiente Não me basto acompanhada, preciso mais de mim mesmo E não entendo Como esqueci de ser eu por tanto tempo.   Hoje eu tomo a cerveja intensa, potente, amarga E recoloco as cores nos meus i's   Reouço aquela discussão,  um ano exato atrás ou quase isso Quanta banalidade discutida Quanta energia em algo falido E tanta coisa que não era meu! E tanta coisa não foi reconhecida! E agora... nem ligo.  Há muito mais por viver E hoje posso chorar sem medo mas nem o faço E posso novamente não temer e vivo com calma E posso novamente desejar pois é o que me motiva E novamente almejar amar num futuro completo Com tudo que me faz eu curiosa alegre intensa rebelde crítica  uma avalanche que destrói e constrói Cí

Olhar

Belo, como um sorriso escondido por entre aquele emaranhado. Claro e escuro, como telas renascentistas. Uma iluminação dramática. Um sorriso infantil, de canto a canto, sem mostrar os dentes. Vejo e novamente, belo. Belo, sem erros. Belo, sem apelos. Um dia chego. Um dia esqueço. Um dia revejo. Belo. Uma pequena graça, entre desejos escondidos, pois mostrar dentes é errado. Mostrar partes de si é ser vulnerável. Me despeço. Não temos mais as mesmas frases. Um dia cheio, nem relembro sua cor. E quantas tinham? Infinitas possibilidades numa paleta universal. Claro e escuro. Os tons de novo, eles me perseguem ou eu os adiciono? Novamente falo disso. E me repito. E preciso deixar claro que não é minha culpa perceber o óbvio. Ele só vem à mente, como tu, belo. Uma graça que me escondo. De novo tu me vem, só por ter te perdido e ganhado ao mesmo tempo. Que vontade... e te pego de novo, te coloco de fronte a mim, me aproximo como só consigo fazer na intimidade, me fantasio de cores e tu, belo

Monônima

 Uma dúzia. Um ano. Um mês. Trinta dias. Dois números. Dois nomes. Um universo.   Olá, como está?  Sonhou comigo hoje?  Pensou quantas vezes me diria que me amava?  Será que pensas que sou fácil só por deixar tudo leve?  Será que ainda imagina? O que pensou ontem que te deixou tão sorridente?    Nem vi teu sorriso, mas imagino na memória. Uma memória. Um sonho do passado. Não me confundo mais. Estou agora. Aproveite, amanhã nem o futuro pertence. Nada mais está certo ou determinado. Mudei minhas padronagens, parei de ser metódica. Não quero mais meus modos. Não observo mais... ela me disse que eu era observadora. Eu sou? Não tinha me percebido, como como ser observadora? Tu está voltando enquanto os outros estão indo. Eu antecipo coisas. Vivo num futuro que nem existe, como aproveitar então agora? Acho que sou estranha. Palavras soltas no mundo virtual. Vamos partir amanhã cedo pra praia? Não, vou ficar. Preciso de silêncio. Preciso me observar. Será que terei tempo suficiente depois?

Não me molde

Não me ame Não me aperte Não me consuma Não me faça sua Não me torne impura Não me equilibre Não me sacuda Não me torne seu mundo Não me deixe cair Não me embriague Não me abuse Não me use Não me coloque entre muros Não me classifique Não me julgue Não me pergunte Não me abafe Não me silencie Não me confine Não me amarre Não me toque Não me sinta Não me respire Não me faça suar Não me torne Essa massa irregular.

Os sonatas

Um dia ele me perguntou o que eu fazia ali, sem nenhuma intenção. Eu adotei uma parede, eu  disse que ela era colorida. Os tons iam ficando azuis e embranquecendo. Eu estava de pé na frente de sua testa, meu lábios quase o tocavam. Nenhuma lágrima corria pelos nossos rostos. Cada passo dado e tomado, foi uma interpretação falsa, mas ele subiu os andares e não desistiu. Ele tinha se confundido. Ele me olhou com seus olhos verdes e disse que foi sem querer, me vendo nua. Interpretações errôneas. Como uma nota que insiste em bater, um erro novamente. Aquela tecla branca e colorida com as pretas. O som de um piano me acompanhava pela vida. uma sonata, um soneto esquecido entre a intensidade de cabelos arrepiados que subiam minha pele em ondas sonoras. Eu era eletricidade, ele era minha fonte de energia e havia sido até então a coisa mais pura da vida. Não mais. Ele um degrau abaixo, me deixando grande suficiente. Quase indo. E eu deixei ir? Não, aquele ímã, o vício. Ele não dava as costas

Quebranto

Uma nova miragem apontava o caminho escuro daquela estação. Dois pares de olhos caminhavam por sobre as sombras que iam e vinham de folhas esquecidas de cair. Um momento de suspensão, seu corpo ia e vinha, mas os olhos se mantinham lá, cruzados por sobre uma pálpebra roxa. Um soco. Uma luta. Uma batalha interna. Um sofrimento sentido na alma. Uma ação e demonstração de afeto agressivos. Um dia ele iria ir. Um afeto rebelde que pensou que amar era agarrar com toda força. Os pares opacos do branco ainda flutuavam na escuridão, seus pensamentos flutuavam sem entender as sensações de dor e decepção. Não era justo. Nada era justo. Um soco. Um tapa. Batia-se descontroladamente. Queria sentir dor. Tudo ardia. Tudo. O fogo era tão gélido quanto a alma que não a ouvia mais. Um corpo dormente ao seu lado jazia ali, inanimado. Não adiantava mais gritar. As palavras eram inúteis. Os pares de olhos ainda estavam lá e o corpo continuaria ali. Parados e distantes. Um corpo sem vida e sem vontades jun

Carregada

Quando ter momentos Destes que invento E sempre é sobre o tempo,     ou mesmo sobre amor   Vai ter momentos Simples sons Espalhados pelo corpo,     que carregam um pesar   E vai ter algo Além do que esperar Aquele momento,      simples e único   Deixar estar e ser Simples pluma Num vento sul,     feito pranto

V de Coração e Três - regras simples na pescaria de Peixe Morto

Olá, pessoas, há sete anos (ou quase, eu não estou aqui contando dias, certo? Sou uma mera editora da editora da editora) esse pedaço de relíquia caía em suas mãos, guias e manuais de COMO VENDER TEU PEIXE MORTO - GUIA PRÁTICO EM DEZ AÇÕES e ou mesmo com todas as regras básicas de vendas, vocês devem saber que teremos uma imperdível promoção de como conseguir conquistar seus V's em toda a terra. Mesmo que precise de água, ser capaz de pescar sem água é uma das grandes habilidades desejáveis no mundo contemporâneo que nos exige cada vez mais a autenticidade entre os diversos tipos de encaixe entre V e V e V e todos ou outros que vierem. Para isso, a edição de hoje, nossa editora maluquinha, decidiu criar essas regras básicas super uper inúteis que nem sempre funcionam, pois afinal, nem sempre queremos ter sucesso, não é mesmo? O bom mesmo é continuar tentando! REGRA 1 Fuja enquanto há tempo.  Não há regra mais básica do que ter medo. Qualquer coisa como coragem deve ser evitada. REG

Intensa

Um elogio. Um caos. Intensa. INTENSA. Isso é bom ou é mau? Ontem ou semana passada, não sei exatamente, pareceu ruim. Ontem ou hoje ou será que viria a ser amanhã, uma qualidade? Alma, uma alma atormentada com erros e exigências de tempos que foram... e adapta-se as devidas matemáticas de espaços e tempos, agora olha-se no espelho, reflexões de passados e presentes, e agora, na época natalina, eu não encontro onde a alma me deixou ser assim por completa, intensa. Foi com o livro que eu imaginava um dia poder ler letra por letra? Foi por ter sentido algo quando a natureza me sussurrava que beleza mais natural é o que importa? Quando foi que a beleza te destruiu? Quais belas paisagens eu deixei de sentir? E tudo absorvia-se pelos poros pequenos do meu corpo, assim, me lembro do meu rosto, cheio de pontos pretos, cravados com todas as partes ruins, sugados do meu corpo exterior e adentrando o interior. Ou seria o contrário?

Sono

Sempre que te vejo, um sorriso interno preenche as fibras do peito. Como uma musculatura, quase enferrujada, eu vou testando novamente meus limites. Não é sempre agradável, pois após um tempo, nosso corpo prefere se manter em descanso, se movimentar e seguir adiante não é mais um hábito. Não quando tudo isso já é conhecido. Os louros pelos danos. Os danos que, imprevisíveis, virão silenciosamente. Adormecendo enquanto aguardo, fecho os olhos e te lembro, congelado, num meio sorriso e no meio de uma prece. Os olhos colados em um rosto petrificado. Um tempo parado entre outros universos e outros conhecidos. Um suspiro e adormeço por completo. Nada mais está pesado e nada mais é pensado. Entre os sonhos há apenas o inconsciente levando-me mais profundo aos meus anseios e desejos. Um ou outro rosto borrado me mostra um passado incompreensível. Ainda desvendo as cores que vejo, pois ainda sonho colorido. Aquele sorriso no início de todo pensamento paira pelo ar, como o Gato de Alice. Eu rel