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Mostrando postagens de julho, 2021

O vento silencioso

 Antes de tu me conhecer eu era uma grande pessoa: vivia sussurrando no ouvido da sorte, algo como... tu estará onde o vento te levar. Hoje, porém, acordo do lado esquerdo da cama e o restante do meu corpo, salvo o coração, está gelado. Gelo é algo que nos carrega os sentidos e, penso, será minha gana ser gelada até os confins da vida? Será que me veria tão azulada? Macabra? Ontem comi uma laranja, amarga ou azeda. Nunca sei diferenciar. Mas o gosto me arranha a garganta. Sina de vida, eu vejo isso o tempo inteiro, a morte do meu gosto pelo outro.  E me decido descer o apartamento, me agarro no corrimão. Meus dedos nunca mais irão desgrudar dali. Um momento em que me equilibro. Eu caio e encontro, todo o meu fundo, negro, comprido, frio. O fundo do poço. O alto, o ápice da montanha que me congela. A ânsia que me tira o sangue na madrugada de janelas abertas. O cão que uiva pela morte através da lua. Um único suspiro e minha mão, que agarra com força o pedaço de metal, escorrega e num b

A foto desgastada

O acaso, destes que não eram muito corriqueiros, pois nenhum acaso o acaba sendo, ele chega quando tu não está olhando, e todos olhos e todos te encaram e por um momento tu paralisa o pensamento: este acaso, e este mesmo acaso que ontem foi um momento único, é isso mesmo que eu quero? Pois eu sinceramente ainda não sei se é de fato isso que eu quero. E nem a Vera e nem a Loca conseguiria me distrair para entender como é a vida. Tudo  que eu escrevi ontem foi uma bobeira, dessas que nos deslumbram por imaginar demais. Me disseram, tu imagina demais. Me disseram, tu é impulsiva. Me disseram, tu gosta de controlar, e me disseram, que está tudo bem. Minto. Nunca me disseram que está tudo bem, essa é a conversa interna que faço para aliviar o fracasso de relações. Das minhas relações comigo mesma. E caso tu desapega, tu não se aproxima, caso tu se apega, tu cai do precipício. Qual deles... um, dois três. Um... dois... três. E gira. Uma música no pé do ouvido. Um e dois... e três. Gira. E ah

Olhos azuis

Enquanto olho para dentro, eu  vejo o brilho que tenta escapulir dos meus poros. Quebrada, minhas pétalas estão. Espalhadas pelo vento que tocou o caule, ela entra devagar no recinto. E rodopia sem saber, que muito mais que brilhar, muito mais que enfeitar, aquela roda dizia a mim: eu amo você. E eu fiquei sem entender quando ela caiu. E no chão, no chão... eu percorri uma maratona. Eu girei em todas as direções que meu eixo instável permitiu. E eu doei meu tempo, e eu doei a única coisa que me fazia ser eu mesma, amor, eu dei minha queda. Eu dei minha dor, sincera e abertamente... para tu virar-se meu inimigo. E tu agora ajoelha-se, e pede "me perdoa, eu desisti cedo demais". E eu não consigo te encarar, olhos azuis. Não consigo.

voz do peito

 Eu fico triste, quero chorar e depois que a dor volta eu temo eu temo que seja por ela que ainda suporto o medo e ainda encaro essa linha que atravessa meu próprio nome   E eu ainda achava que minhas durezas eram de argilas simples que precisavam apenas de água pra voltar a amolecer e não, não eram uma gota só não seria, séria sereia, no teu mar eu só...    achava que esse lodo todo queria dizer algo além de cascas secas e talvez, eu não vi o certo ainda essa cor ocre é da já queimada queimada amarelinha uma terracota eternizada em fogo de chão e no chão, me vejo com meus cabelos arrastados por um fôlego abafado de um peito que jamais   será curado.

"amigos"

 Amigos, disse... ontem me ligou e, parei de fazer isso. Parei de ligar, de buscar e de te contar: eu pensei em ti. E não foi querendo que hoje te escrevi. Eu poderia viver sem imaginar, mas o que poderia ser, se eu sempre lembro? A mente surpreende, vontade consciente ou inconsciente, eu ainda espero teu colorido sorriso, ao brilhar pela manhã. E quando a mensagem chega, corro pra ver, achando tolamente que és tu. E por todos os sinais tento te encaixar bobamente no meu sonho mental, essa maionese de batata infinita. E tua voz rouca me amolece os sentidos. E eu sonho em acordar do lado dela, esperando ver ela amanhecer e falhar, da maneira mais simples possível, assim como uma remela no olho, que se acumulou de tantos sonhos bons.

A abelha no recinto

Uma abelha voava feliz pelos campos verdes, uma abelha voava pela cabeça dela ainda. E aí ela tentou a pegar, pulou e pulou e correu. Ela, pequena perto deste sentido de felicidade, pequena, sempre, pequena demais, estava voltando, e voltava... ainda calma, sem fôlego. Ainda dizia, quero ficar ao redor de sua cabeça, se acalme... eu nunca quis tanto te ver tão de perto... e foi quando... eu sai correndo pelos ares, rodopiei e gritei e gargalhei. Quebrei meus ossos, e minha cabeça explodiu, devo ter bebido demais, meu bem, e agora, que mal restou? Acho que só zumbidos.

Uma razão para sonhar

Eu tenho tido uma vida difícil sem você, concordo. Meu sorriso não é o mesmo, nem sei se entendo todos os motivos que me faziam tão feliz. Mas ainda lembro das gargalhadas maravilhosas, de qualquer coisa que tu dizia. Ainda lembro de todos os momentos e não adianta dizer que ainda sou a mesma agora. Não sou mais. E hoje ainda há os motivos para se sonhar, que é o que me mantém em pé, sonhando em futuros de felicidade, amor e prazeres que eu irei ainda me perder. E ainda que você só tente ser único, eu te digo, eu te juro, ninguém é igual a você. E nem há alguém igual a mim. Todos, únicos, seguindo suas capacidades e potencialidades no momento presente. E eu amaria te dizer isso ao vivo e à cores, pois eu sempre irei te amar. E sempre, para todo o sempre, irei me amar primeiro. Até a próxima parada, onde irei ter a sensação de ter te visto antes... alguém que parecia conhecer uma vida inteira, doce estranho, que irá entrar em meu futuro.

Pequeno tu

Pequeno garoto, boca fechada não entra mosca. Fique na sua. Mantenha seu ritmo, confunda minha mente. Pequeno leão, agarre com unhas e dentes, garras e presas, meu despedaçado coração. Eu estava estragada, eu disse, e tu não acreditou. Pequeno grande moço, que bela juba, que belo sorriso, encantou meu coração. Mas pequeno, lindo e grande mente brilhante de pessoa... não esqueça de desejar bom voo ao meu novo passatempo: crio histórias surreais para alegrar corações reais. E superficiais. Que se permitem omitir e mentir e confundir em amores desprezíveis. Amores que são incompletos. Não intensos. Suaves. Será isso o princípio da minha ruína chamada inveja? Eu será que invejo, amor? Amor?