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Mostrando postagens de abril, 2021

Musiquinha

Só pego meu sorriso abrindo. E então ouço o player. Músicas incongruentes que não entendo bem. Acredito que a batida era mais alegre, mas decidi não pensar. E deixo ela me tocar. Uma batida que reverbera os sentidos. E deixo minhas pálpebras caírem, fechando levemente e vagarosamente os olhos. Me elevo. Te deixo ir pelo pensamento. As luzes estão fortes demais e por isso vislumbro os claros e escuros que deixam o ambiente com o tom reconfortante...

A parte que nem cabe mais

Eu, começo. E então olho de volta. Não consigo escrever meu nome. Eu mudei demais. Não me reconheço eu. Eu, recomeço. E vejo novamente. Novamente, mente aberta. Sinto o cérebro afundar entre indecisões passadas... e me desperdiço toda no agora. Vou ou fico e o resultado será o mesmo. Exceto pelo peso. Exceto pela impermanência. Exceto pela constante que volta dentro e tenta tomar conta do que ainda permito ser. Olho ao redor... ninguém escreve meu nome junto ao seu. Estou morta. Seca. Um sonho apagado pela secura da in-fecudez. Me balanço e tremo. Eu não sou aqui e nem sou eu mais. Me revolto contra minha derme, me provoco contra os capilares que me cobrem. Me desespero pelo branco no topo de mim. Me olho de volta com revolta, ânsia de não reconhecimento. E me devoro como papel que sou. E todos meus papéis passados eu mastigo toda. Linha, por linha, até restarem apenas lendas do que um dia, meu nome foi.

União

Há um belo doce feito com ele. Fui juntando aqui e ali as receitas feitas. E depois, como tempero adicional, frito na panela e na frigideira, dando um leve dourado natural. Foram anos de escravidão para o mais branco e refinado doce que ele proporciona. Não se deve desperdiçar essa doçura. Uma gata sai da piscina, pega sua caipirinha, rodeia a mesa, encosta seu antebraço no balcão e sorve o líquido gelado e cheio de álcool. Não há nada igual como um açúcar junto de um limão.

Doze horas

Eles se encontraram esta tarde, uma tarde bela de sol. Ele encarou ela, ela encarou ele, um tanto mais baixo que ela. Um tinha dois anos a mais que o outro. Não importavam quantos gritos ouviam-se. Todos estavam onde deveriam às doze horas do dia. Uma hora na cama, outra na mesa. E de doze em doze, os ciclos se repetiam. Ontem ela se revirava na cadeira, enquanto ele se revirava nos lençóis. Dois pequenos mundos separados por horas. Hoje eles não estavam mais separados por horas. Nem quantas horas fariam você ficar próximo dele, não haveria força. Haveria apenas o lamento. A garganta aperta, ela sente como o ronco leve, a garganta aperta. Os olhos de ambos se umedecem, nada podem fazer. Um silêncio acompanhado de uma gaita de boca tocada num parque qualquer. Duas horas, mais dez horas, uma playlist interminável de uma valsa inacabada. Dois pra lá e dois pra cá, uma boca gospe por cima dos pequenos buracos. Os dedos deles se tocam levemente, um leve arrepio sobe sua nuca. Os pelos estão

Uma bela roseira

Um espinho estava balançando por aquela caixa esquecida, caindo... Uma caixa esquecida dentro do armário, um propósito simplório dado a ela, guardar e reservar os incontáveis espinhos da roseira que um dia fora a mais bela do bairro. Foram 16 anos naquele precipício. E agora ela cortava galho por galho. E os juntava em grandes montes por sobre a mesa da sala. Achava que conseguiria até o fim da semana permanecer lúcida, mas os espinhos a tonteavam como quando tomamos um grande gole de licor, tomada às pressas, causa danos. Acredito que apenas pequenas pétalas teriam ajudado ela a não se mutilar, mas ela evitava até isso. O poder de uma roseira na mão de uma mulher é simplesmente inimaginável. Aquela roseira em específico continha algo mais que especial. E aquela mulher cortava os galhos. Todos eles. E de cada um, ela retirava seus espinhos e os guardava dentro da caixa, colocando papel seda por sobre camadas, selecionados para impressionar qualquer um que venha se aventurar e perguntar