Aguardava na calçada, com um pequeno embrulho em suas mãos e um olhar evasivo para o lado oposto ao meu. Quando falava com ele me sentia menor do que sou e muito menor do que pensei um dia ser. Ao seu lado, não era nada, coisa boba, tola, ele era mais. Ele era apenas um órfão com medo de segurar apenas um embrulho e de ser chutado como lixo, como tantas vezes foi por outros, e cauteloso, não chegava muito perto. Mantinha distância, um metro e trinta e sete centímetros. Setenta e três vezes fora abandonado. Pelos cálculos, mais quatrocentos e sessenta e duas ainda estariam para acontecer. Magro, negro, não. Alto para a idade, saudável, assustado e fugidio. Não lembro, talvez treze anos, com cara de dezesseis. Talvez uns doze. O fato é, que voltando para minha casa o encontrei e sugeri, assim, como não querendo nada, que ele viesse comigo e me contasse a sua história. Concordou, desde que a distância continuasse e que eu lhe pagasse um pão com manteiga na rua das padarias. Após eu lhe of
a que surgiu primeiro.