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Mostrando postagens de novembro, 2020

Um distraído encontro

Em um dia não muito alegre Uma menina adentra a sala Que bonita essa estante Cheia de contos fascinantes!   Era uma vez um garoto Vindo de terras distantes Tão bonito suas sardas quão gentil sua alma era   Dois pequenos sonhadores Viviam idealizando Um perfeito momento Para seguir adiante   A menina logo o viu E pensou que foto estranha   O menino, já cambaleante, Nem notou quão rápido fora   Se pudessem se ver de fronte Iriam rir por toda estrada   Dois viajantes sozinhos Esperando o encontro Quais cegas entrelinhas Iriam surgir adiante?

Um diário em aberto

"Agradecer é algo simples, portanto o faço. Ontem descobri que minhas pequenas lagartas, após muito bem alimentadas, decidiram se recolher em seus casulos. Tão crescidas foram! Já antevejo as pequenas coisinhas coloridas a voar por aí! Um dia, tão grande irão ocupar todo céu. Suas asinhas frágeis e brilhantes irão refletir todo brilho da luz do sol. E eu ficarei aqui, entusiasmada com suas capacidades de manterem-se vivas, persistirem em não deixar de existir." - Amor, o que fazes acordada tão cedo? Olhei de realce para aquele vulto murmurando através das cobertas. Sorri internamente e aquietei a sensação no estômago que ele ainda despertava. Olhos nos olhos, disse suavemente: - Estava preparando nosso futuro com elas.

Rosa e Balão - Um conto flutuante

Uma vez a Rosa perguntou ao Balão: - Que te importa a leveza do meu toq ue suave? Ele a encarou, ruborizado, talvez por já ser reflexivo, talvez por seu material plástico? Então disse: - Eu me importo. Podes passar anos e luzes acenderem nos céus e renascerem novamente. Eu me importarei. Enquanto teu toque suave e sedoso existir, não importará quantos espinhos carregas. Veja eu, tão alegre pelos ares, mas tão cheio! Pareço leve, mas de fato não sou... nunca posso permanecer vazio de fato. Minha leveza é transitória, enquanto a sua, perene, renasce como os brilhos mais distantes do nosso universo. É por isso que te admiro.  Ela ficou ruborizada por entender tão pouco dele, cheio ou vazio, ele era seu. Preso no seu caule como um presente que a fazia conhecer todos aqueles novos lugares. Se mantinham distantes como era previsto, pois suas partes duras arranhariam seu ser flutuante e o explodiria, mas mantinha proximidade de qualquer modo. Era disso que ela mais gostava. A proximidade, mes

Curando cacos

Me desculpe por ter entrado. A porta estava aberta. Você deixou... você deixou eu entrar. Me disse, venha, eu fui sem pestanejar, confiando nos sentidos que emitíamos um ao outro, sem toques. Conversamos a tarde inteira. Eu nunca via o tempo passar, pois para mim, não tem mistério. Sendo bom ou sendo mau, o tempo passa igual. Pois havia alguma coisa, aquela coisa que eu me repetia, há algo que eu sinto que valia lutar. E eu te dizia, e tentava dizer, me desculpe te quebrar. Desculpe me quebrar antes. Não chegava. E agora já completa, te vejo ainda da mesma forma, pois algumas belezas nem mesmo as marcas da queda apagam. Cerâmica japonesa, folheada em ouro, reluzente, que mantém seus cacos unidos por centenas de anos, pois o importante é não desistir da peça que ela exerce, o servir a algo. Eu me quebrei e me refiz, como nunca antes imaginei. E agora, vejo de longe a porta que me afastei. Ela continua ali. Aberta, entreaberta para quando te revisito em meus sonhos. E eu não me curo por

Universo Super 9 (Nova)

Daqui em duas linhas ou menos irei te perguntar, irei questionar, irei balançar todas as tuas estruturas, pois meu universo e essência não cala, ele arremete contra os impérios de quaisquer cores.  E tu?    De que parte vens? Onde começa teu fim? Qual teu absurdo mais tolerável? Quantas questões são inquestionáveis? Quantas reticências estelares deixou escapar? Quantas borboletas em estômago não coube em ti? De quantas formas acordou e nem se lembra? Quais as vezes que te despede sem partir?  Já teve que andar descalço e sem sentir? Já sentiu tanto que nem ouviu o que dizia? Quantas cabeças cortou sem chorar? Quantas estrelas olhou e nem notou que morria?  Quantas perguntas adormecem no consciente? Que inconsciente tuas dores carregam? Qual tua parte mais infinita?   E essas são só os começos de pequenos dilemas, tão novos quanto os primeiros, vão vir novas e noves e todas elas serão respondidas. São pequenas profecias questionadoras que são largadas pra um e pra outro, que se permites

Colecionável

São várias, disse ele, colecionando. E hoje, hoje  é minha! Usou seu corpo desesperadamente, intensamente, com tudo que existia até então. Até que uma rachadura próximo a borda tornou-se impossível conter o líquido interno. Hoje ela se estragou. A garrafa tão desejada agora jaz no chão do quarto. Empoeirada como as velharias de seu pai, já falecido em memórias. Outrora, viria ele a se lembrar dos momentos intensos: onde o líquido saciava. Onde a noite não durava por ser tão boa a presença interna. Hoje, ele não bebe mais nada dela, mas a usa como objeto de relíquia, boas memórias ficam assim: empoleiradas feito troféus que não servem mais pra nada.