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Mostrando postagens de fevereiro, 2013
Sete horas atrás, eles não se conheciam. Ele ficou mudo ao seu lado, olhando o incrível anúncio de novas rotas pela metade do preço: "Viajem assim, só em Marte!". A outra pessoa, entretanto, folheava a incrível revista de equipamentos para pesca, agora lia "Como enterrar os restos do seu peixe. Guia prático em dez ações." escrito por P. Sá. As pessoas achavam bem normal não se falarem, era bem normal nem mesmo dizer bom dia. O bom dia era quase uma ofensa, imagine. O mundo era feliz assim, portanto não fique espantado. Aliás felicidade era relativo e contato humano era feito somente pelo parto de alguém, quando a mãe teria de dar o primeiro tapa na criança e depois abandoná-lo na primeira esquina que visse. Felicidade era quando algo bom, ruim ou péssimo acabava. Os olhos das pessoas só enchergavam as coisas ruins, portanto era normal ser feliz por coisas tristes. O sábado era igual a segunda-feira, todos com caras cansadas. O domingo, com aquela vontade de se matar

Ray Ban

Pegou seu "Ray Ban" e foi olhar as vitrines. Caminhava com o cabelo preso, seu estilo moicano, eu sou Ben seu Jorge. Na pequena passarela de olhos que não olhavam nada além de seus próprios consumos, ele não parava para os curiosos. Alguns batiam palmas, afinal, ele era o cara. Todos corriam para ver seu "Ray Ban" estilo bang bang, sou fodão. O xadrez da camisa era apenas disfarce, de grunge não sabia nada, talvez soubesse um pouco de violão. Agora ele parava pra ver o outro lado: seu próprio reflexo. Lindo! Bravo! Sou o cara! E novamente retoma a posição anterior, nada me pára e nem me atinge. Sou sarado e lindo, sou alto e distraído, as gurias piram, meu chefe pira, e ops, ele não trabalha! Meu chefe é o cara, e eu sou o cara. Ele era o cara, ele era seu chefe. Chega a hora do charme: pisca o olho, tira o "Ray Ban" e o coloca espelhafatosamente na gola da camisa. A cena foi assim: primeiro pé na escada e o segundo no chão, o resultado final: caiu de dois
Andava com ela mesma, pensando na vida e nas suas tristezas. Carregava o pacote de comida do amanhã ainda quente. Lembrava dos momentos aqueles que se tem um dia só. Só uma vez. Cada dia um só momento de uma vez. Foi então dobrando a esquina, e vendo os rostos alegres e marotamente coloridos, condizentes com a época do ano. Não sorriu pra ninguém, eram sorrisos fáceis demais. Leves demais. Sorrisos sem fundos. Que não pagavam os impostos da retribuição. Contribuir com eles com sua única companheira? Solidão é bom só. Então que olha pro chão, desviando mais um sorriso e acaba o vendo: poderia ter sido o grande amor da vida, poderia ter sido o salvador da noite, o homem da casa de alguém, porém apenas chora como gaita, uma rouquidão faminta. E neste momento se esvazia dos pesares, e o vento leva ela ao seu ato bondoso e que nunca será lembrado por ninguém mais. Ela saí dali com a lembrança do cobertor sujo, das mãos surradas ao receber mais que um pacote, passou ao homem também seus pesa
A noite dura até o perfume acabar, até os olhos cansarem... e até o próximo sorriso se transformar. O trânsito enche, a vida se esvazia, o muro da rua fica colorido, o mundo dorme. O pouco tempo fica com tempo demais, o cansaço vira energia nos abraços que se transformam em garras.

E-go!

A última coisa que virá de mim, um pedido. A última coisa que jamais faria seria esquecer. A última coisa não seria uma exigência. Nem um adeus, nem as costas, nem um roubo. A primeira coisa que faria, jamais mudaria. Abriria um sorriso e seria forte e te deixaria. Iria valorizar cada vez mais os meus. A primeira coisa que falaria, não te aproxime muito. No andar dos traços, meus rabiscos iriam dizer, que não mando em mim. E nenhum motivo é bom suficiente, para eu não ir atrás do que o vento me oferece. Me jogo fácil, mas não sou. Não jogo com ninguém, nem ando com minhas pernas. Eu escalo as paredes. Bem me estou, sozinha, mas a multidão me parece ser bem mais fácil de estar presente em muitas vidas. Não ter de explicar nada e ser o bastante para eu mesma.