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Mostrando postagens de dezembro, 2012
Reconheci suas desculpas. Atrás das lentes de sua luneta o olho via outra paisagem e o céu azul era mais violeta. Observava um pássaro negro voar adiante sobre a brancura do mar. O mar era assim: azul profundo e branco inútil. Pelas lentes de sua luneta ele também poderia ver, caso não ficasse observando seu pássaro, que na areia logo abaixo, vinha fazendo pegadas muito pequenas uma mulher de estatura mediana com um grande chapéu rosa. No corpo dessa mulher estava escrito assim "Voar: o vento me levará.". Se ela estivesse menos ocupada em andar com a cabeça baixa, teria visto que o lugar onde procurava estar era lá no alto, onde ventava muito e era onde o observador finalmente perceberia sua presença e talvez até viesse a realizar sua escrita. As coisas da coisa estariam resolvidas. Todas as coisas dos mundos singulares estariam resolvidas em um grande plural. Cada qual estaria bem melhor. Cada qual talvez. Talvez num próximo momento saberiam que os se's, seria melhor se.
Com as mãos tremulas apanhou um tanto de água. Olhou para frente e se viu, abaixando levemente a cabeça tocou a água no rosto. Voltou os olhos e novamente se viu. Encarou. Neste momento as coisas ao redor também tremiam. Cambaleou pelo espaço como se estivesse em uma corda bamba. Sentia tudo se afastar e se sentia cada vez mais perto. Chegou no seu lugar e se atirou no meio da grama, olhou para o céu e viu estrelas cadentes, todas brilhavam, todas giravam, o céu poderia ser colorido na noite, pois elas o enfeitavam. Foi então que percebendo quão lindo era, mais lindo seria se pudesse senti-las. Foi então que começou a chuva de estrelas e uma a uma começaram a cair deixando seu rastro cadente. Ele se sentiu flutuando pelo espaço de cores e tudo o que tocava se transformava em formas líquidas. A lâmpada do carro que aparecia em frente se transformou em um farol. O farol virou uma montanha russa. Ele estava em alta velocidade. Foi parar em seu sonho, quilômetros de distância de onde dever
A mesa treme. A rua estava silenciosa e os gritos em sua mente iniciavam em um tom grave. A primeira gota de suor resvalou pela nuca e cortou sua camiseta em outro tom. Os dedos dos pés ficavam levemente inclinados para o alto. A verdadeira parte do ser que pousava ali estava em uma dimensão diferente. Ele a pousou descansada, sentiu seu cheiro e acariciou seu contorno sem tocá-la. Foi assim que se levantou da mesa, correu para a porta e distraído, esqueceu a luz da cozinha ligada. E a xícara de café ficou parada, esfriando seu conteúdo amargo.
Acabei de dizer do tempo,quando cruzei alguns segundos (uns trinta e três, exatos) com a cor do dia. Acabei de ver um arco, no horizonte onde está chegando uma embarcação. Olhei o reflexo e vi que eu estou pelo vento. Não estou aqui pelo vagão, em vão. Foi depois disso que botei meus pés no asfalto, na noite eles não queimam... na noite eu não me esquento. Acabei de dizer da coisa. Eu estou por um nada tão grande e me vejo tão pequena, que eu não sei mais se ao lado o muro cresce... ou eu que viro gigante.

Observação, o início - Texto UM

Ele chegou em casa suando frio, tremia as mãos. O álcool o deixava fora de si, mas fora de si ficava sem ele. Tirou sua jaqueta, pendurou no cabo do armário e olhou para a sala. Iluminada, sua mulher o esperava, linda em sua palidez na qual não conseguia deixar de ser triste. Diabos, ele a quer! Se aproxima dela e a levanta como uma pluma. O corpo dela se deixa levar pelas mãos pesadas e ásperas. Ele a pede para o olhar dela cruzar o seu. Ela treme. Ela o ignora, não o suporta. Asco. Ele a deixa e se vira enquanto... Olhando de costas, ele parece um bom homem, o homem com honra, aquele que ela casou. Ela tem a surpresa já esperada: o sangue escorre pelo seu lábio inferior no mesmo momento que percebe estar novamente no sofá. Jogada, se joga novamente no calor do momento e sem grito algum ela segue de olhos fechados. E tudo isso eu vi pelo simples fato de achar aquela árvore de plátano um encanto. Então ali parei e a observei por doze dias. O que ocorria? A árvore se tornou u

Observação, o início - Texto DOIS

Ela descortinava a janela superior. Calmamente, levantou sua cabeça para a luz e esticou nos seus lábios um triste sorriso. Alvorotada, ao ouvir seu marido, deixou seu pequeno momento de solidão e voltou para suas tarefas. Recolheu os pratos da mesa, mediu a febre do filho. Deu um beijo na mão do marido e recebeu uma queixada na testa. Ao bater a porta o marido se dirigiu para o carro, ligou o motor. Se foi. Neste momento, ela calculou os segundos (um, dois, três... vinte e oito) e então se ouviu a porta bater. - Olá, meu caro. - Disse ela, sorridente, um sorriso verdadeiro, para mim. Lhe disse que hoje eu não demoraria. Ela duvidou, mas também não sabia de meus compromissos. Bebemos um café amargo e ela me disse que estava preocupada com o filho. Preocupada com o filho dele. O filho de outra. Levantei e me despedi. - Talvez amanhã nos vejamos. Mas eu sempre a via. Na verdade, eu a observava. Pela manhã, cuidava de seus dois homens. O maior, seu marido, bruto e alto,

Eu percebo, mesmo morto - Texto UM

Sempre cresci com consciência da minha tendência ao não perceptível, os olhos fáceis nunca perceberam tudo que já vivenciei. Sobrevivo aos pequenos ataques que constantemente atrapalham minha filosofia visual. Algumas vezes ganho adeptos, outras vezes simplesmente não consigo suportar mentes irrequietas, esses simplesmente acham que sabem da observação constante e eu não mais lhes exemplifico com minhas longas analogias de muitos anos. Anos, vivo a viver algumas centenas de anos nessa observação. Os novatos! Eu não os suporto, acabam de vir para esse mundo subterrâneo e já perdem a noção de juízo... e de sanidade. Muitos enlouquecem. Alguns simplesmente divertem-se comendo cadáveres. A vida por debaixo da terra nunca foi fácil. Muito sei sobre isso, já vivi muito posso afirmar, mas não sei tampouco quanto alguns que vivem mais... Observando e agindo. Minha contemplação já rendeu casos extraordinários, lembro-me em especial este que é meu fascínio, meu luar, meu verme. Nunca esquec

O Inventor

Criou a luz e trocou a lâmpada. Iluminou seu mundo escuro com tons de flashes. Pegou pela mão seu melhor amigo, e levou-o até o precipício. Então a voz surgiu e ele disse: - Quando te vi, pensei que tu já existia, então tentei uma aproximação e descobri que a luz me enganava. Levei anos para entender o porque. Seu amigo continuou ali, tentando entender a situação. Ele jamais tinha se comunicado de outra forma, como iria ele, um pacato desprovido de atitude, conseguir falar com o outro? Continuando a explicação, o inventor fala: - Foi por isso que te trouxe aqui, pois aqui estamos bem perto de tudo: olhe, logo mais adiante podemos ver tua casa. Se tu der um passo para este lado e virar a cabeça assim, vai ver uma forma estranha nas ruas lá embaixo. Tente! Não, eu não vou olhar, irei tontear. Eu... eu não. Mas ele não foi capaz de não respeitar seu amigo, e fez então suas pernas criarem movimento. Olhou. E o mundo do amigo mudou.