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Mostrando postagens de março, 2022

Adeus para o futuro

Tu sabe que eu não sei dizer adeus, nem sei dizer o que falar quando tu me deixa de olhos arregalados, congelada, no meio fio, e que os tchaus são mais leves quando me despeço causando reboliço - bem no meio de palavras não muito congruentes - e parece que seria sempre assim, mas ambos estamos carrancudos para tudo. E tudo parece calejado nesses dias de sistemas que amontoam dedos sobre teclas. E nem sabia se tu queria sonhar junto, mas eu também tô assim, meio cabreira e mudada, melhor nem pensar, que deixar fluir isso é melhor, para afluentes de rios que passam, ora, pois, não retornam mais ao ponto inicial. E falamos coisas e dissemos tanto, mais que devíamos, e agora a prestação será cara, que nem sei com que cara vamos terminar nessa mudança de estação. Será que tu vai usar as palavras saudades junto de nunca mais? Ou vamos sutilmente sermos só nós, distantes mármores quebradiços? E mudando mudamente? E será que teríamos plantado juntos essas últimas sementes, tipo Castanhas, e co

Corpos

Teu corpo tem ressonado no meu, e não, não mais um outro corpo sobre outro. Um sentido destoante do meu não toque. Um quero perto que nem chega a ser tátil. Não posse. E complexo era a frase da lembrança dos teus tons. Sóis e mis. Pele com pele. Uma luz de domingo cobria teu rosto feito casa conhecida. Não era casa. Não era lar. Seria estar? E visto o traje de aceitar, não me engano. Queria me enganar, me bagunçar, me deixar ir... seria um caminho mais fácil, mas no acaso não se manda, só se escolhe. E me peguei surpresa ao falar, escolhendo demais palavras que não voltam e que não serão desditas. E penso, penso para caramba, antes... E me tremo, pelo corpo inteiro, até dizer chega, mas não chega. Nunca chega, nunca bastará. Um desejo infinito de ir além e me aprofundar, até criar algo novo e bonito. Tipo isso aqui.

Gertrude

Gertrude, meu amor venha cá carregar esse balde cheio de valas e pedras valetas pernetas   Meu amor é teu, Gertrude, era imenso Cheio de malas e foguetes prontos a decolar Tipo foguete de rolha imensamente alcoólico Perdido no vácuo espacial E tu Gertrude Meu amor é teu Como mel que acaba fel Imensamente tóxico Nocivo até para mim,  que nunca amo nem mesmo a mim. Mas nos encontramos tão soltos Tão no balanço Na ância de vomitar todo absurdo que um dia pensado tu pensou imenso seria aquele amar mar oceanico de cultura e várias falas valas caindo neles fomos e tu me matou No fim, pois poema bom é poema ruim.  

Colecionadora

Hoje ela se olhou no espelho com aqueles olhos avermelhados, não de choro, nem de noites mal dormidas, apenas os olhos com a coloração natural, castanhos avermelhados de sol. Um ínfimo segundo passou quando percebeu onde estava: presa num tempo que acabava e retornava ao inicial. O ciclo repetitivo do saber e do desaprender. As amarras a prendiam e a libertavam e tudo retornava ao lugar. Ela caminhava enquanto ouvia os sons de vozes distantes. E se ouvia representada: não deixe eles te apertarem demais. E seu coração enchia de raiva por saber que teria que pôr mais uma pedra rolar nesse jogo de interesses. Ela dava seus passos pequenos com imensa intenção. Se deixar atrás e nunca mais retornar ao local inicial. Era sabido que isso é impossível. Maneira ou outra tu retorna ao útero e ao cerne das questões levantadas, seja na mesa de bar e seja com pessoas virtuais, distantes. A distância, algo comum e incomum. Ela se mantinha distante de tudo agora. Recolhida na sua bolha protetora. Rec

Manhã tardia

Ele era um sol para a manhã tardia. Não foram muitas oportunidades que tivemos de encontrar nossos olhares juntos. Eu cheirava beija-flor, ele sucumbia de amor. A palma era escorregadia e ele chorava. Nossos olhos não mais bastavam para nós mesmos. Começamos a subir pela mata verde. Ele me dizia coisas como quereres e como o mundo girava. Eu dizia que nunca era o que aparentava. E começamos na areia movediça de toques que não mais bastavam. Os toques se afastaram. Os corações estavam gelados. E o sol, sempre aquecendo, não mais chegava na pele exposta. E todos os sentidos sumiram, numa perfeição marmórea. Ela seguia leve, com seus pesos guardados a sete chaves. Ele a observava distante, mudo, com o silêncio pesado de sentir demais.