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Olha e vê, no canto.

O que mais chamava atenção eram os olhos. Arregalados em uma expressão de total espanto de si mesmo. O olho ficava de um canto ao outro naquela brancura toda procurando um espaço no preto, pra ver se aliviava a tensão da luz. A luz, aquele ser fantástico, cheio de cores, cheio daqueles tons reluzentes, com um montão de opção pro olho da criatura escolher olhar. A luz ainda tinha efeito interessante: tremelicava e arfava conforme o olho se mexia. O olho era um destes clássicos: com a íris preta, com uma fumaça colorida ao redor, neste caso, uma fumaça engraçada, cor de nada. A cor de nada tanto faz, sabe, se tu pensar bem, o nada é bem possível de existir. Eu, particularmente, gosto muito do Nada, pois quando nada há, há espaço pra existir. E daí que eu estava narrando o que mais chamava a atenção? Atenção de quem? A gente começa com essas coisas de querer expressar e se perde toda, pois é tão bonito isso, as palavras que não significam grandes coisas, mas estão sempre aqui, prontas pra sair não importando se soam bem ou se caem de forma errônea neste meu português cansado. Eu tinha prometido um montão de coisas pra vida, aí veio à luz o meu nada e me completei tanto... eu sempre esqueço onde estava, esqueço os horários, esqueço os uais. Aí sempre tem gente que se sente mal com teu jeito, teu jeito enche o saco, principalmente quando teu jeito é quieto ou reservado, eu não sou reservado, não sou lugar pra ser reservado. E bem que eu queria me reservar em algum canto, tipo o olho.
Se eu continuasse com a anatomia dos sentimentos, eu veria ou sentiria mais? Algumas coisas são preocupantes, do tipo: eu vejo o incômodo, é algo expressivo e dá outra reação ao teu olho. Tu sente isso. Tu se cala. E o se calar? O calar, o ficar mudo, o não sussurrar palavras, o não livrar-te de ti mesmo, que fica indo e vindo na mente imunda que tu acaba descobrindo que tem, ele faz tão mal quanto sair falando tudo que o olho vê? A interpretação de cada canto não é mais sincero quando é apenas sentido? Tenho então que falar o tempo inteiro ou olhar? Eu vou calar, como sempre. Querem ver quem eu sou? Não ficou curioso? Eu sou um observador, aquele homem que cruza tuas esquinas todas as tardes quando volta do teu trabalho, sou um amigo distante que tem medo de voltar numa conversa indelicada, sou teu pai quando ele não sabia te explicar de forma mais simples como a vida começa, sou teu vizinho que chora escondido da esposa por não saber amá-la da forma como ela exige, eu sou o sentimento de culpa dos ditos inocentes (pois mesmo os ditos inocentes tem culpa de olhar), eu sou a vida que não pediu a luz, eu sou o preto que cobre tua cama ao fechar os olhos. Sou tanto. Tu nunca me viu, e se tu pensar em mim bem forte tu me sente. E no fim, sou tua imaginação.

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