Pular para o conteúdo principal

FODA-SE

Hoje a moça de azul tinha caminhado muito. Ela estava cansada, com o rosto cansado, com os fios dos cabelos cansados. Ela estava total preguiça e, mesmo assim, decidiu seguir adiante. Caminhou então mesmo sentindo que deveria parar. Ela raramente dava atenção aos sinais piscantes e vermelhos na sua cabeça. Pra que daria? Tudo vira bosta, segundo Rita. A vantagem de pensar assim é que se não tem medo destes sinais, que geralmente são bem extravagantes, barulhentos e com muitos contrastes, tu vive bem mais de todas as formas. Tem gente que não consegue viver as coisas ruins, pois o que comumente é ruim, não pode te oferecer nada além de um mal estar e por isso a maioria das pessoas vive na zona de conforto aceito pela sociedade. A moça azul discorda disso, se tem algo ruim pra ser vivido, que seja vivido intensamente como tudo que ela tenta viver e tocar. Seja coisa ruim ou não. O que é ruim? Sorvete de pistache, ameixa azeda, nabos? O que é um nabo?! Ou atitudes que não te convêm ou não se encaixam no teu circulo de comodidade? Alguém que te machuca deve morrer por te fazer mal? Se ela pensasse assim, nem ela existira coitadinha, de tão mal que ela se faz. Se ela não é nada, ai dela se tentar ser algo a mais do que outro. Mesmo assim estava cansada. Seguiu o passo. Pisou nas poças de chuva, escorregou e machucou o pé. Tá, não foi isso, mas vou usar figura de linguagem que a Mary estava estudando ontem. Aí estava mancando e cambaleando com seus cansaços pra casa e e e. Vazio. Sozinha. Nenhum amparo. Nenhum sentimento. Nenhuma revolta. Vieram apenas risadas. Gargalhava sem parar. Ela estava bem, muito bem. Estava viva! Que estranho, se morresse não teria feito diferença tampouco, estamos cá pra isso! O que vier até os 27 tem de ser extremo, depois disso é lucro. Estou bem, dizia. Ela se convenceu tão bem disso que enganou ela mesma. Tem coisa pior, pensava. Tem gente que não vive por medos. Os "se's" sempre ali, impedindo de viver. Se dar algo errado, se não for bom, se não tiver gosto de caramelo, se for algum psicopata, se arranhar minha Lamborghini Veneno? SE? Pois aí que a moça azul lembra daquele botãozinho, chamado carinhosamente pela zoeira: FODA-SE.

PS: mas SE foder, tá bom.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esteira

Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.

Romântica

Eu sou romântica  Com meu amor Esperando no quarto em fronte com taças e castiçais  Não sou aquela romântica Quando eu vejo atravessar ao longe na rua segurando mãos com sua alma gêmea e eu vejo por distância  você caminhando para longe dela E desaparecendo Nos meus sonhos

Não somos amigos

 Eu não consigo ser tua amiga. Eu juro, tentei. Eu prefiro ser nada. Aliada a mim. E eu gosto das lembranças. E eu gosto daqueles momentos, tão tranquilos. E tu engoliu a voz. Buscou paz. E eu, observo aqui, contente por ti. Tu merece toda paz do amor tranquilo. E eu? Eu aqui, imagino, se poderia ter sido.