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Mostrando os dentes.

Há aquela necessidade, de mostrar os dentes. E não por raiva ou ostentação, seria apenas receio?

Eu vim daqui de Porto Alegre numa situação bizarra: peguei o bus das 15:30 pra Capelinha. Pra tanto precisei comprar a passagem, a minha ida pra lá. Ai quando cheguei no box 37 tinha vários tipos de gentes, aquelas gentes que gostam de filas. Fiquei de canto esperando, por educação. Aí me toquei que estava com malas, e malas significam portas. Portas-malas. Me dirigi até o local, com um senhor muito inquieto, parecia se preocupar com a hora. Se precipitou e colocou minha mala e minha mochila no mesmo canto, e me obriguei a informa-lo: esta irá comigo.
Depois da cena toda, fiquei aguardando cinco minutos.
Passou.
A fila iniciou sua trajetória: pés-por-pés  a subir aqueles quatro degraus e achar seus acentos. Como se todos soubessem português. E eu? Esperei o moço, a senhora, o vô. Todos se foram, e eu na minha paz alcançada de ser a última entreguei meu bilhete pro responsável: irei pra cidade matar a saudade. Que nada! O cara me olha meio controverso, com mil desculpas a balbuciar: desculpe mocinha, terá de pegar o próximo ônibus, pois o que temos aqui não é suficiente para tantas pessoas. Nosso sistema não se atualizou na hora das vendas pro novo carro.
Se eu tivesse num ano diferente, num corpo diferente, no qual estivesse de mal com o mundo inteiro, iria reclamar. Porém eu tinha pago o comum, de comum mesmo, ou pinga pra outros. Aí tu sabe, fiquei imaginando que minha mala ficaria no ônibus e não poderia retira-la, que perderia a hora e não chegaria a tempo para meus planos, meus amigos.
Ele então recolocou minha mala no bagageiro do outro carro, ele me olhou muito sério: peço desculpas pelo incômodo, tua poltrona é a 34, o agradeci dizendo não ter problema e com um sorriso desejei boas festas. Entrei no semi-direto pelo preço do comum. Todo mundo indo viajar e o cara preocupado que eu teria ficado brava com ele por algo que não cabe aos seus trabalhos, eu fico brava com ele por não ter ido tirar umas férias e relaxar. O negocio é que ele deve estar acostumado com gente sem educação. Já parou pra pensar que tu paga e tu pensa que tem propriedade pelos que te servem? Não temos propriedade nem pelo que temos. Achamos que somos donos de tudo que compramos, mas se tu bancar o babaca tu perde tudo. Um exemplo, uma senhora meio gorda e de atitudes bruscas ralhou com o motorista por sair em atraso, ou seja, qual o direito de propriedade que ela tem ao sair ralhando com ele? Ela pagou uma passagem para transporta-la até seu destino, muito bem, e deveria sair em tal hora, 16 e 15. O ônibus estava aguardando ligado até que os demais saíssem para o motorista poder manobrar, quem é motorista entende quando há muito tráfego em fim de ano... nunca tinha visto tantos carros saindo no mesmo momento. Ela deveria ter ponderado estas coisas antes de sair gritando com o coitado. Aí faz ele se estressar por nada, coisas pequenas em que algumas pessoas dão relevância. Resultado? Passamos no caminho por pelo menos dois congestionamentos e ainda assim, o atraso de 5min no box, os carros parados na estrada e chegamos na hora prevista. Tudo isso com estresse e discussões que não levaram a nada e te deixam com aquele pensamento: o que eu faço aqui ainda? O mundo está cheio de gente que pensa de que pensa alguma coisa. Acredito que devemos sorrir mais para os outros e sermos mais gentis. Não teria sido maravilhoso o motorista chegar em casa e dizer pra esposa que uma senhora o elogiou por ter aguardado os motoristas sairem na frente e uma senhora o agradeceu por ele te-la levado em segurança ao seu destino? Por isso que tenho certeza disso: dignidade e o respeito são as únicas coisas que tu não perde, tu as merece ou não. E ninguém precisa pagar pra adquiri-las, o melhor é que sai de graça.

Quando cheguei na rodoviária aguardei pelo meu irmão. Ele chegaria em instantes lá e fiquei observando o local. Três coisas me chamaram a atenção: 1) a pessoa que servia os salgados na loja de franquia limpava os dedos na própria camiseta. 2) o pai logo a esquerda não sabia controlar a criança que berrava por algum motivo infantil. 3) o dia estava tão insuportável e eu me sentia tri bem, mesmo assim. Tictac ele chegou. Eu entrei e ele abriu o sorriso: ele é lindo. Nunca disse isso pra ele, mano tu é lindo! Gatão mesmo, um galã que mesmo coruja fica bonito. Pedi pra ele passar na casa de Sue, pois ela iria me acompanhar pra casa. Antes disso mudamos um pouco o trajeto, pois o mano iria passar na sogra dele. Sei lá, sei que quando percebi a Sue já estava no carona do carro e do nada conversando com meus pais na sala de casa. Dou risada disso. Ninguém percebe como é, o tempo passando assim tão rápido. Tu ali está e em seguida percebe teus braços ali na frente da tua cara dirigindo um carro, com Sue do meu lado, um pouco mais do mesmo, tri bom.

Daí tínhamos quatro pernas, duas pra cada uma de nossas imaginações. Acima de nossos pés a noite: estrelas, objetos não identificados e nossas memórias.

Kit: todo corpo igual osso, mas os mamilos são os mais fofos.

Casal bonito: pessoas legais antes e que continuam iguais ou melhores depois de juntos.

Ele pedindo eternização: Crie um texto sobre isso.

Ovni: era uma luz diferente, e sumiu do nada.

Músicas que amamos, Gal Costa e a arte de cantar desacelerado.

A falsa esperança não alcançada: passa ano vira ano e aqui estamos.

Sue lendo algo significante: "você tem o amor que tu acha que merece"

No fundo todos querem alguém pra amar, admitimos hoje a tarde.

Eu bebi e não fiquei bebada. Como tu consegue?

Deitamos com as cores e eu capotei em preto e branco.

Somos egoístas ao ver a felicidade alheia, mas que casal que anda de mão dada ao fazer esportes?

Eu: eu não consigo agir normalmente depois que ocorre certas coisas. Isso é normal?
Ela: Não sei, deve ser. Eu sou assim também.
Eu: Então deve ser normal.
Ela: Eu não sou muito normal.
Eu: Nem eu.

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