A pena era branca. Estava jogada num canto do jardim. Vejo também um pouco de poeira contra os raios do sol. Tu já parou pra ver estas pequenas partículas flutuantes e percebe quão leves e lentas e em seus tempos corretos elas chegam até o chão? Como não se desviam de nada, mas seguem o que é proposto? Depois de ter refletido sobre a pena eu precisei me retirar do jardim. Então entrei na cozinha, pra deixar meu copo de água, que escorregou e quebrou. Os cacos foram por todos os lados. Sai para buscar a pá na área de serviço, me abaixo e por costume olho para o jardim, e vi um pássaro se debatendo pelo chão. Penso em ir socorrê-lo, mas não podia deixar os cacos espalhados. Volto para a cozinha com pressa para poder ir ajudá-lo e, acidentalmente, enquanto recolhia os primeiros pedaços de vidro eu corto meu dedo mindinho. Eu sempre achei este dedo inútil, até que o corto e sinto que ele de fato existe. Larguei tudo no lixo e enrolei um pedaço de pano, da louça mesmo, entre a carne e as gotas de sangue. Me voltei pro passarinho. Fui até lá, vi que bonitinho, morrendo e se contorcendo. Quanta graça hoje em dia no sofrimento! Me servi de um pedaço e mastiguei até cansar a mandíbula. Hoje em dia os passarinhos são bem voláteis. Não alimentam muito. Uma pena.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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