Ali, vivo. Disse o senhor.
Apontou o dedo enrugado, dobrou a folha, mascou seu tabaco. Era sua sétima
frase favorita: "Ali, vivo". Falava ao vento, para quem quisesse
ouvir. Seu nariz sobressaia naquela barba toda, meio roxa e grossa de sujeira.
Marcas de antigas rugas de sorrisos e exclamações perpassavam a pouca face
exposta. Os olhos eram vivos, cor de céu, cor de mar, cansados de ver paisagens
e sedentos por ver ainda mais alguns sóis. O bafo quente subia junto com a
fumaça. Ele encara as espirais e pensa. Alívio. Vira os olhos, faz um sinal com
o dedão, sobe em sua nova carona e segue para o deserto. Alívio. Certo, sertão, solito e que trará mais um ou dois calos nas mãos. Que alívio, ser útil e fértil. Então pensa. Assim rima. Terra. Anota mentalmente uma harmonia. Os buracos mantém o ritmo.
Duas paradas. Em uma chega. Desce do comboio. Olha o chão amarelo, encara o
breve mormaço. Sente. Ajoelhado em uma entrega ao sagrado e soberbo mundo: pede
a ela mais um caminho. Saudoso levanta as mãos, os braços, a cabeça, o corpo, e
deixa os filtros e raios perpassarem sua pele, sua alma... e se entrega novamente
ao caminho. E ali, anda. Obcecado na busca do alívio.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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