Pular para o conteúdo principal

Assombrada

Era uma casa assombrada. No segundo andar: dois quartos e uma suíte. No terceiro: uma sala de música, uma biblioteca, um grande escritório. Escondido no corredor: uma entrada para o sótão. No térreo: uma dispensa, uma grande sala de jantar e uma cozinha em conceito aberto. O pé direito, enorme, subia além de três metros. As janelas eram grandes, quase encostando no chão. Detalhes de madeira nobre. Ao redor de um de seus lados, a casa assombrada mantinha uma varanda, capenga e cheia de vento. Ele entrou com a chave escondida sobre o capacho. Rangeu a porta abrindo poeira acumulada. Os novos ares chocaram-se com o ar de décadas. Fez-se um clarão difuso. Fumaça e luz. Partículas. E então, até hoje me pergunto o que aconteceu com ele ao adentrar. Nunca mais se falou dele. Ninguém mais chamou por seu nome. Um completo estranho hoje está perdido na casa assombrada.

Ela se sentia assombrada. Em segundo plano: ficar e continuar suas costuras. Em terceiro plano: realizar suas peripécias. Nos caminhos realizar novas peças. Em primeiro plano: caixas espalhadas com lembranças esquecidas, uma cozinha acumulando louça, dia sim e dia não. Seus olhos, grandes, castanhos. Marrons feito casca de pitangueira. Via-se em tantas perspectivas e sem nenhum espelho. Girando pela sala junto do seu coração, intenso, que era talhado pelas mãos de outros e que raros ela permitiu deixar suas marcas. Um corte fundo agora, refletia toda luz sugada dos dias felizes. Que dias felizes são esses que acabam por serem assombrados?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esteira

Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.

Romântica

Eu sou romântica  Com meu amor Esperando no quarto em fronte com taças e castiçais  Não sou aquela romântica Quando eu vejo atravessar ao longe na rua segurando mãos com sua alma gêmea e eu vejo por distância  você caminhando para longe dela E desaparecendo Nos meus sonhos

Não somos amigos

 Eu não consigo ser tua amiga. Eu juro, tentei. Eu prefiro ser nada. Aliada a mim. E eu gosto das lembranças. E eu gosto daqueles momentos, tão tranquilos. E tu engoliu a voz. Buscou paz. E eu, observo aqui, contente por ti. Tu merece toda paz do amor tranquilo. E eu? Eu aqui, imagino, se poderia ter sido.