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Caixa Azul

PARTE I

As vezes, tenho que ir
Eu, as outras eus,
Todas minhas formas,
Todas minhas expressões,
Todas que fui,
Todas que sou,
E todas que desejo ainda ser.
E vou.
E vou ali naquela caixa,
Minha caixa.
Caixa azul. Monocromático.
Meu refúgio que vira alada,
As vezes vira brinquedo,
As vezes vira automóvel,
As vezes vira suporte,
As vezes vira lar.
Minha pequena cidade inventada,
Onde caminho ao lado de pessoas que amo, as vezes que amei.
Onde consigo criar e pensar e sonhar.
Principalmente sonhar.
E sonho sempre.
Hoje amo mais eu
E ando de mãos dadas com todas as eus.


PARTE II

Era uma vez
Uma menina azul
Que descobriu ao acaso
A caixa quadrada super, uper,
Dupler,
Trepler,
Kepler!
Ela entrou nela e ficou:
Segura.
Descobriu que dali em diante
Poderia ir para Lugar Algum. Ou qualquer lugar.
L.A. era um lugar maravilhoso:
Casais apaixonados andavam de mãos dadas de trás para frente. Mundos inteiros eram vistos. Foguetes de rolhas criados. A menina, que sempre em essência criava, nunca deixava de acreditar, que um grande amor iria encontrar. Uma vez um menino verde entrou e tocou seu nariz. Seu mundo, bicolor ficou, repleto de nuvens, altas, altas, cada vez mais altas! E tanta altura e tontura criava! E lá de cima, ela viu estrelas e sóis e planetas e dali, se inspirava e se precipitava por novos caminhos.
Estando ela um dia assim, apaixonada, gravou um vídeo fofo,
Onde uma máquina de escrever
Repetia ao eterno espaço inventivo daquele lugar mágico e cheio de possibilidades:
"Roarte por toda parte"
"Roar por ar"
"War ror ror"
E frases sem sentido e muito cheio de significados surgiam e a cada dia mudavam um pouquinho a menina, que as vezes não era azul, mas era loba. Que não era mais loba, era periquita. As vezes, até cachoeira se transformava!


Até que, sem querer, viu que sua caixa estava pequena demais. Ela não poderia levar dois. Era uma caixa para uma só pessoa. Tentou emprestar ela algumas vezes, mas ela rapidamente foi deixada de lado.

A caixa e a menina também não se entendiam mais. O menino verde ficou sem entender como a caixa ficava menor e menor a cada dia, cobrando da menina uma atitude. E a menina, em seu desespero, tentava aumentar o impossível, sem saber muito bem o que fazer e se culpando por todo o caos. Até que sua caixa foi rasgada, quebrada e posta no lixo. A menina sabia que a caixa era dela, mas não sabia como arrumar, como poderia? A caixa estava estragada, não havia mais o que fazer, tudo se perdia quando acreditava estar melhorando, um ciclo de tormento entre ela e a caixa ocorria até que o inevitável aconteceu.

A menina azul e o menino verde ficaram frente a frente, sem mais poder entrar em LA e as coisas ficaram feias. Nada mais era tão belo. Tudo começou a cair ao redor. Mundos inteiros despedaçaram em sua frente.

A leveza da caixa se foi junto de sua magia.

A menina azul precisava recuperar sua caixa. O menino verde precisava descobrir qual era sua caixa. Se era caixa, bola ou qual aparato lhe cabia, sendo ele daquele tamanho desproporcional e com uma cabeça maior do que ele imaginava ter. Ela imaginava um chapéu ser um bom lugar para ele, mas nunca disse nada, afinal, isso é muito pessoal (mas ela não podia evitar de criar e ver possibilidades!).

Sua imaginação começou a ser um problema, pois sem a magia de LA, imaginação torna-se pesadelo.

Meses que pareciam eternidade se desenrolaram entre os dois. Caminhos juntos, caminhos separados.

Eles se afastaram e, um dia, decidiram rever aquela caixa. E foi mágico.

Infelizmente, a magia durou uma só noite, e depois disso, não mais se entenderam. Faltava força, vontade e material para reuso. A caixa estava quase perfeita, mas a menina sabia que não poderia caber dois. E tentou esperar por ele e sua caixa. Mas ele não voltava. Ele percorria por todos os lugares na procura disso, mas acabava dormindo a maior parte do tempo. Estava encantado pelo inverno e pelo ronronar de sua bichana, que chamava a cada miada a hibernação.

A história acaba por aqui, nada mais a dizer. Um dia ela viu um menino verde entrar, ficou tempo suficiente para perceber que crescer dói e nem sempre é possível alimentar sonhos através das caixas dos outros. Buscar sua caixa e seu lugar seguro é doído. Solitário. Felizmente a gente sempre encontra alguém que está vivendo em sua caixa, de forma boa, e pode compartilhar um pouco dela, mas não se pode usar dela assim, de modo perpétuo ou tentar aumentar algo tão individual.

A menina azul agora tem sua caixa, que tá usada, reusada e aumentada. Pretende fazer umas melhorias no futuro, por isso tem coletado materiais importantes, do passado e do presente.

O menino verde não mandou mais notícias, mas ela deseja que esteja bem, pois nada melhor do que descobrir seus espaços, descobrir sua própria caixa e ser dono de si.

A menina azul, por fim, sem mais o que fazer, voltou pra LA. Agora, anda morando entre lararis&lararós. Voltou a cantar sozinha, a fazer dancinhas matinais. A leveza retorna aos poucos, meio tímida ainda, temendo algo acontecer, mas a confiança retorna com o tempo correto. Recomeçou a apreciar o invisível aos olhos dos que não sonham, tentando ser boa. Pequenos frutos vem vindo... E tão cedo irá divulgar.

PARTE III

Será?

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