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Atravessando cimentos

Hoje acordou. Cílios pequenos caíram de suas pálpebras. Todos os fios, pequenos e recém nascidos, caíam. Esse sentido de ser breve, é a condição que poderia manter em constância. Constâncias que não julgava. Não julga. Afinal, constância é sobre ser cíclico. Não? Nasce, cresce, e, por sorte e ou por acaso, morre. Hoje acordou. Amanhã não sabe se a sorte será a mesma. E mantém-se na constância. Sinônimo de ser isso, lealdade de não desistir. Não, persiste. Insiste. E toda vez que uma parte de si cair, outra renascerá. Por isso o ciclo. A vida morre. A vida renasce. Um alimento entra. Outra matéria sai. Uma cadeia cheia de entrelinhas. E dessas matérias que vamos deixando, cria o líquido que acompanha esse cílio. Toda noite, um cílio cai, acompanhado de seu eterno amante: salobre, líquido, que o acompanha até as partes rosadas da face. E fica lá. Até o amanhecer. Enquanto a cor vívida do cílio vai sumindo, a gota seca, até colar pele e fio. E quando abre os olhos, nem lembra do que aconteceu, despercebido, algumas mortes nem são vistas. Como aquele cinza que vejo toda vez que lembro. Um cinza duro, com cheiro de putrefação. A morte do que uma vida de sorrisos me ensinou: seja leve, coma maçãs. Saiba dividir. E aqueles olhos verdes dela são doces em memória. E acordei hoje repensando naquele momento que queria ter atravessado aquele cimento e te abraçado novamente, sinto tua falta, diria. De um tamanho que só tu, doce pessoa, poderia me consolar. E tão breve aquele momento, e aquela sensação, passaram-se 17 anos e ainda choro. E ainda sinto essa vontade de atravessar cimentos e me fazer ninho entre teus braços, doce pessoa, de olhos verdes, que me cuidou para ser forte e eu mesma.

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