E para quem Anita olha, é olhada de volta: olhos, grandes, com sorriso meio escondido, meio aberto. Anita, que antes mesmo de ser pop era uma solita, que dos olhos claros tua luz refletia, ela nunca viu nada além de um palmo do futuro. Anita, diria a ela se estivesse aqui: olha o cara! Ela, infelizmente, era uma dessas que ignorava. E provável ainda que enquanto vos falo, está lá, ignorando até minha existência. Anita, a rebelde. Anita, a ingrata. Anita, a que não suporta. Ah, Anita! Pira! Para que te quis??!! Anita que provoca, mas antes de um corpo e matéria, ela sempre foi palavra, muda assim mesmo. Pequeninha de um pouco mais que um metro e meio. Anita não era por ser pop, para quê mudou meu nome? Ele era bem melhor sem fama, sem associações ao funk. Ela era uma balada de movimentos escassos: rodopiava e subia e descia e se jogava, até de ponta e de cabeça, entre fumaças e seus cabelos, ficava. E seus cachos, que eram a parte dele que ela agarrava, viravam ondinhas entre seus dedos. Mas essas ondas... escuras e turvas... a levaram. Engoliram sua existência. Ficou por anos, três até depois do fim, ao menos, sofrendo sem entender que sofria. Anita, pra que tu me deixas assim, agora, volta! Não falei por mal, foi só o que aconteceu. E, todas as vezes que ela me deixou, ela retorna, por ser ela, assim, uma ressaca. Não possui os olhos de Capitu, mas possui uma intensidade maior: é castanha de olhos, negra de alma, e possui uma força interna de mover montanhas. Não sei de onde tirou tudo isso, provavelmente das energias que depositaram nela. Como uma esponja absorveu por longos anos isso tudo: o mundo te carregou. E agora, que vais devolver para ele? Ele? Qual ele? Quais deles? Mundo, que há de Anita em ti, que vais permitir ela viver ainda? Mundo, me retorna uma esperança, pois ela, sem você, vais perecer sem ter aproveitado uma dúzia de sonhos desmedidos e foi você que plantou na alma infante dessa pequena grande criatura... Anita, a grande de sonhos.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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