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Folia de Nina

Era toda ela. Bagunçada, saía assim de meia e chinelo para a rua. Comprava agora com sacolas de pano e chinelos havaianas uma ou outra verdura na esquina da casa que ninguém habita. Sabia que seu cacho de cabelo que caía atrás da nuca nunca iria crescer, era só o amasso da noite mal dormida. Duas lavadas e toda curva ia embora. Sabia que volumes eram feitos de aparências, uma miragem que o olho cria para ser bem aceito por si mesma. Nina, seu nome de velha, há anos não usava. Nina, a dona da tabacaria e a dona da cantina. Nina, a mulher que andava de sacola pela rua, carregando lãs e geleias para os netos. Nina, a mulher que seria um dia. Nina, agora é tia, mas ainda pensa ser uma mamis de outro ser, para fazer crescer e crescer junto, dando tudo e nada e sendo o que precisa para cada um, com limites e infinitos eternos e genuínos. Nina não pode jamais imaginar demais, pois assim gera expectativa e planos são vistos com maus olhos por todos os seres humanos que vivem na era digital, o lance é ser fluência e fluído. O lance agora é chegar tarde no encontro e dizer foi mal, estava ocupado, e admitir que outros são só outros e ser independente é não respeitar a vontade alheia, pois nada além do próprio umbigo importa. O que de fato ocorre, é que nada ocorre ou acontece, pois cada um vive sua vida, e se conformam com isso. É isso: a folia acabou e o carnaval será a folia independente, egoísta que, extrema, esmaga o outro, folia de Nina será aprender a viver de umbigos e fluídos próprios, na medida recomendada, atualizando suas tabelas conforme demandam as etiquetas de todas as instituições conhecedoras de estudos comprovados com seus efeitos colaterais e laterais e deixar que a lateralidade do mundo passe despercebido para suas reais vontades. Um beijo ao vento deixa ela, pra acabar rimando com a lágrima de viver assim, tão fluente em si mesma e sofredora de todas as amarguras engolidas e depositadas na garganta.

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