Pular para o conteúdo principal

Me desgosto de tu

Ele era tão óbvio e prático, simples e fixo. Nada mais nele se mudava, tudo no que se agarrava era a omissão de sentir. Não transparecia para não se machucar e, assim, se manchava entre os vermelhos da dor criada e interna, alimentada pelo seu ambiente conturbado e disfarçado de lar. O coração batia no peito, mas ele abafava entre o deixar pra depois e o esquecer pra fingir nunca existir. Ele era assim. Simples por fora. Tinha aquele olhar que tudo te dava. E mais um mundo inteiro seria criado em poucos momentos cheios de presença e entrega, se quisesse. Não durava, entretanto. Inconstante, desgostava logo nas primeiras dificuldades alheias. Desgostava de tudo e facilmente julgava ser superior a tudo, na verdade, consequência de querer ser aprovado como o bom samaritano que nunca faz mal. Causava danos irreparáveis e não assumia os quereres que quis e escolhia. Egoísmo há um nível mascarado. Dizia fazer tudo por outros e que se deixava para depois. Em realidade, essa atitude servia para si: buscava a aprovação com esse discurso. E eu via tudo. Vi tudo isso, como água cristalina, era fácil perceber o que há nos padrões. E quando me vi, entre eu querer ser algo bom e ser junto, partilhar um mundo, estava envolta no manto da confusão. Me fui deixando, achando que o errado era eu. E muito mais, erros de um passado que sem perceber, não era meu, mais pesos acumulados. E era fácil me culpar. Eu sou a senhora desculpas, afinal. E quando vi, eu estava imersa em mim e nunca mais existir, me anular ao ponto de toda confusão sentida. Sempre culpa minha. O que quer que fosse, não podia: não agora, depois, não agora, depois. E depois nunca chegava, pois quando não se é prioridade, dificilmente será. E tudo agora é leve, mas tive que me afastar do que acredito no fundo da alma, que é a razão, única e imensurável de ainda perdoar: amar. No entanto, sempre me desgostarei do que passei pra descobrir que errada não sou, mas fui, ao tentar ser algo que não se pode alcançar por dois.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esteira

Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.

Romântica

Eu sou romântica  Com meu amor Esperando no quarto em fronte com taças e castiçais  Não sou aquela romântica Quando eu vejo atravessar ao longe na rua segurando mãos com sua alma gêmea e eu vejo por distância  você caminhando para longe dela E desaparecendo Nos meus sonhos

Não somos amigos

 Eu não consigo ser tua amiga. Eu juro, tentei. Eu prefiro ser nada. Aliada a mim. E eu gosto das lembranças. E eu gosto daqueles momentos, tão tranquilos. E tu engoliu a voz. Buscou paz. E eu, observo aqui, contente por ti. Tu merece toda paz do amor tranquilo. E eu? Eu aqui, imagino, se poderia ter sido.