Hoje temos computadores, notebooks, tablets e chicletes. Todos cabem nessa mastigação virtual, completa, transportável, fluida e escassa de profundidade. Em todo momento bits e bites e gigas e rams e coelhos por portas e buracos desconhecidos se encaminham pelo meu e pelo seu momento. E dialogando de maneira tecnológica eu possuo um determinado conhecimento e limito-me a pensar que não deixei mais nada de fora: estou no mundo de eras do tec do pop do agro e do Tá, ok?! e não, amigo, isso pode soar irônico, mas um dia ao reler-me ieri rir dele. E sempre. Hoje é de riso nervoso. Amanhã será de ter duvidado. Hoje escuto blues, pop, eletro, samba, pagode e rock e soul e clássico e orquestra e Trumps que propagam chamas por entre uns e outros e a raça virou cor e ser humano não é raça é modelo e cor vira status e brancos e pretos se matam e, eu, azul, não me encaixo. Não me encontro mais mulher, mas nem menina, nem moça, envelheci, devo já ser idosa e se possuir alma, como assino, devo ter 89 anos e me encaminho aos 90, pronta, sempre pronta. Pois quem não se apronta não ri e o que mais quero é rir, sempre, em todos os momentos, mesmo chorando e chorar por rir tanto até nunca parar. Mas fato, é que os desafetos se foram e eu continuo sem entender o motivo de que tipo de relações essas tecnologias nos deixam ser nós mesmos. Somos uma face rasgada que antevê a interpretação alheia? Como o pequeno irônico sorriso de Coringa, que gosta, sim, ele gosta, de ser insensato por ser justamente ali na insensatez que nos tornamos humanos, nos deixamos ser selvagens e isso, mesmo de forma rasa, extravasa essências do nosso íntimo. E, dizem, que desse antever jogamos em telas coloridas e com contrastes e brilhos e modelos e marcas, são iPhones, iPads, Samsungs, Xiaomis, Rexonas e todos as cetonas que a química virtual permitir: nos editamos, recolamos, transfiguramo-nos em beicinhos e pernas e seios e bundas e molduras e grafites sobrepõe um pensamento de hoje pela manhã "hoje eu sou toda toda". E amanhã ao acordar, releio e rio e a tecnologia, desliga os assuntos que me interessam, me cegam e não me impulsionam a ser mais que o sorriso plástico do Vale do Silício. Um Vale de Alegria seria uma grande rima, mas não estou aqui pra contradizer, Tio Sam, que com seu dedo apontado permite e permitiu e permitirá essa devoradora maneira de ser, canibais de nossos iguais, pois tudo é pelo bem maior, mas esse bem é só do meu bem, pois os outros estão invalidados pelos outros béns, que diferentes, não, obrigada. De nada.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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