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Vidas Mortas

Foram duas vezes que eu falei!

- Vira a esquina.

O motorista olha de relance sobre o espelho retrovisor. 

Eu já disse para ela, mas ela insiste nisso.

- Obrigada, poderia me aguardar apenas mais dois minutos? Só  irei comprar um maço e já retorno.

Ele confirma balançando a cabeça.

Ela vai lá, mas depois vai me ligar, eu sei que vai!

- Com licença, gostaria de um Lucky Strike, por favor.

Ele entreolha sobre a vitrine, percebe o pacote sendo entregue, baixa os olhos, obediente a uma causa desconhecida.

Essa mulher! Mas que grande idiota! Vai por tudo a perder!

- Siga pela Avenida Protásio Alves, por gentileza. 

Já estava com o som ligado, mas decidiu trocar a estação, neste momento, uma senhora atravessa a rua com um poodle. Ele observa esse cachorro. E o sangue, lembra do sangue que um dia escorria pelas mãos.


E toda narrativa muda.


Os três personagens finalmente se conhecem, tomam uma cerveja, reunidos em um bar. Triângulos, simplesmente por gostar, era sempre triângulos que uniram eles. 


Três momentos em suas vidas, distintas vidas, fizeram aquele momento acontecer: naquele dia, ela estava irada, ele estava relembrando um passado sombrio e cheio de marcas, pesadas marcas que ainda via em poodles. Já o outro, que alterado estava, agora bebia tranquilamente um copo de Coruja. Era uma despedida, mas era necessária. Ele iria partir amanhã com ela. Finalmente se acertaram. Ele precisava ter confiado mais nas atitudes dela. O fim acaba bem, como Austen amava. 


Ah, ela tão linda! Se soubesse o que estou prestes a fazer com sua vida...

- Rapazes, preciso só de mais uns instantes de menina, prometo encontrar vocês no aeroporto logo mais, está bem? Até!

O cachorro passou longe dele, mas ele sentiu o fervor do sangue subindo novamente na garganta. Estava desatento ao perigo que sentava logo em fronte de si.

 


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