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Não sei se é, amor.

Era uma noite calma e tranquila, o céu estrelado emoldurava uma bela lua alaranjada. Ela olha para o céu, observando a beleza que não se constrói sozinha, mas com seus conceitos. Deseja apenas conseguir seguir adiante, ansiando por uma hora mais tranquila, com esse tempo que emana a sensação de margaridas tocando a pele. Essa mesma sensação que a faz sorrir, boba, um sorriso torto, como que não querendo se ampliar para não acabar. Lembra que flores são dadas aos mortos. E ri disso. Nessa sociedade, flores são dadas para conseguir afeto e para lembrar de entes queridos. Efemeridade arrancada da terra para breves momentos de beleza durarem. E breves momentos de dor, assim como os de amor. Há quem diga que flores representam em suas cores motivos: amarelo é amizade, vermelha é paixão, branca é paz. Sua flor azul nunca chegou e aguarda imaginando seu significado. Não que eu queira dar sentido a tudo ou a estar em controle de tudo, só por escrever por ela. Mas azul é infinito. Como minha fita que ela sempre corre atrás. Infinitamente azul. E mesmo assim,  ela nunca entende a cor. Assim como o laranja da lua que emoldurou a noite, que anos atrás essa menina amava como sendo sua preferida, antes de entender que laranja era gritante demais para a sociedade ocidental católica apostólica romana. 


| | dou uma pausa agora para vocês entenderem o cenário em maneira sensorial: sentem-se em um local de calma, que consigam olhar por completo o céu, olhem para ele, ele está negro, pontilhado com estrelas que um dia morreram milhões de anos atrás. Toda morte sendo observada silenciosamente por amantes apaixonados ou por tristes pessoas solitárias que tomam chá cansados do dia burocrático e de suas solidões ou de famílias que acampam em grandes grupos e param em beiras de estradas e criam fogueiras (ilegais ou não, necessárias ao propósito) e seguem regras e as quebram e, enfim, o céu é imenso e o tempo é perfeito como são os momentos de plenitude de alma: intensa, profunda, criando possibilidades e pensamentos infinitos de cada ação e para  cada reação numa incessante trajetória que se coordenam como a noite desejar. 

Ela retorna seus olhos ao seus pés, que pisam numa calçada já conhecida, imaginando quantos dias ainda restam e quantos dias ainda virão até ela suportar as luas sem lembrar que as constelações se tornaram distração. 
 
>> Passo aqui os lamentos que já são menores que antes. Imagine agora que quando todas as figuras de memórias distorcidas ao passar por sua última noite nesta terra, você consegue perceber que foi feliz, pois sempre valorizou a quem amava, que sempre pode ser capaz de ser pleno e verdadeiro, que fez seu melhor por si e tentou ao máximo não julgar. Mas a vida passou rápido demais, e tudo que viu foram borrões rápidos demais para se aquietar. Será que neste momento você está certo que fez seu melhor? Será que mesmo vendo tudo de lindo, assim tão rápido, é possível não ter perdido nada? O gato na janela que ficava ronronando quando pulava em seu colo. O pequeno dedo do pé encostando de leve a pele suada após o ápice. O leve suspiro de impaciência que se dá aos pais, que mais velhos se preocupam ainda, mesmo não sendo mais necessário. 
 
Agora ela está dentro de seu carro. Seu primeiro carro. Branco. Pequeno. Econômico. Uma bola de lata que contém as promessas de agilidade na sociedade interiorana. Esquece que era feliz sozinha e o deixa para trás, pois suas vidas seguiam em caminhos opostos, pois não havia vontade de ser uma só. 

Amores de paradas param, assim, tão efêmeros quanto sua essência permitir. E só ficará quem dar conta de encarar a dureza das belezas e as facetas que os anos trazem nas relações, quem conseguir decidir agir para ter o que acredita saboreia melhor esses tempos duradouros. Mas aqui, ela para, pois nada além disso fará sentido e ela está cansada da insensatez das confusões.

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