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Rosa e Balão - Um conto flutuante

Uma vez a Rosa perguntou ao Balão:

- Que te importa a leveza do meu toque suave?

Ele a encarou, ruborizado, talvez por já ser reflexivo, talvez por seu material plástico? Então disse:

- Eu me importo. Podes passar anos e luzes acenderem nos céus e renascerem novamente. Eu me importarei. Enquanto teu toque suave e sedoso existir, não importará quantos espinhos carregas. Veja eu, tão alegre pelos ares, mas tão cheio! Pareço leve, mas de fato não sou... nunca posso permanecer vazio de fato. Minha leveza é transitória, enquanto a sua, perene, renasce como os brilhos mais distantes do nosso universo. É por isso que te admiro. 

Ela ficou ruborizada por entender tão pouco dele, cheio ou vazio, ele era seu. Preso no seu caule como um presente que a fazia conhecer todos aqueles novos lugares. Se mantinham distantes como era previsto, pois suas partes duras arranhariam seu ser flutuante e o explodiria, mas mantinha proximidade de qualquer modo. Era disso que ela mais gostava. A proximidade, mesmo distante, daquele que era tudo em seu universo. 

 Ele percebeu os pensamentos dela. Não se incomodava mais com os silêncios dela, nem dos espinhos que eram sua parte mais complexa, a única que valia a pena nunca deixar de lado, pois para ela florescer, seus espinhos, todos eles, deviam sempre estar lá, para proteger aquela beleza que chama atenção de forma atraente a todos.

As pétalas da Rosa eram vermelhas. O Balão era vermelho. O cordão que os amarravam um ao outro foi criado com o Tempo, uma malha branca, de algodão, feita por várias mãos. O caule dela era de um verde escuro, menos quando algumas falhas corroíam seu corpo frágil, do tempo amarrara forte demais alguns pontos entre seu caule. A vida entre os ares deixavam eles muitas vezes em sincronia. Os ventos faziam as coisas andarem, mas também nas tempestades, nos momentos de ventania desmedida seus corpos de pesos diferentes tinham que se virar de modos distintos para se equilibrarem e não se tocarem por completo... para não quebrarem os laços do Tempo. 

Nessa conversa, naquela que acabamos de presenciar, os ventos eram calmos, tranquilos. Isso fazia surgir diálogos possíveis. Agora os deixo, mas acalmem-se, prometo retornar com a história de um Balão que se apaixonou por uma Rosa.

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