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Caros leitores, eu não ligo!

Eu não dormi essa noite. Não... eu preferi ver uma série de imagens românticas. Na verdade, eu nem sei por que diabos ainda olho isso. Um dia talvez eu volte a ler Bukowski. Ele entendia mulheres, mas era exatamente o homem ogro sem papas na língua, que transparecia tudo e que o deixava óbvio, por pior que fossem seus pensamentos sexistas, um dia ele fora meu autor preferido e o imaginava atraente bebendo e fumando. No momento ele ainda é intragável, pois meus padrões mudaram, eles sempre mudam. Me deparei pensando que meus autores vão mudando conforme minha vida evolui. Já não leio os clássicos da literatura brasileira. Já andei pela filosofia, pelos gregos, pelos americanos e pelos deuses nórdicos. Já li como funcionam as mil e uma faces de um herói e todas as construções brilhantes de personagens. Sei como montar um excelente perfil. Sei como montar uma peça, escrever um roteiro, planejar e organizar meu livro. Um dia gostaria de criar a versão masculina de Ruby Sparks. Faria a adaptação além do gênero da personagem, mudaria o fato da perfeição. Não acredito em perfeição. Tudo é ilusório. Nossas noções de beleza, de gentileza, de ética, tudo uma grande filosofia criada para servir um devir que não chega. A noção do romântico é ilusória. Talvez por isso mesmo meu filme preferido seja o Sétimo Selo. Nele há a liberdade de escolha de jogar ou não, mesmo sabendo o resultado da perda e o inevitável gosto pelo jogo. O cavaleiro e a morte são transparentes, uma sabe da outra, não há dúvida na sua última jogada. Ambos sabem que é inevitável. A morte chega, como tudo que é efêmero. Assim como relações no geral. Um dia o cavaleiro discute com outro sobre amor, e nesta parte eu sempre dou risada, pois é pura verdade: apenas idiotas morrem de amor. Seguido deste pequeno tapa na cara da realidade dos fatos, há a seguinte frase: o amor é perfeito em suas imperfeições. Outra verdade, mas o fato é que o personagem que dispara essas frases não acredita em seus próprios conselhos. Pois sempre há de se ter dúvida como são de fato as relações e sentimentos, mas especialmente pelo fato de ele gostar de dar conselhos aos outros o faz egoísta, como toda boa relação demanda. Ele na posição de conselheiro, não precisa acreditar no que o outro acredita, apenas convencê-lo. Ora, pensando nisso, estamos rodeados de livros cheios de ideias de comportamentos. Faça isso ou faça aquilo e conquiste o que quer que deseje. O que acontece, entretanto, quando já se sabem as jogadas? Jogador um, jogador dois. Ambos com seus controles. O jogo é baseado na peça de Shakespeare, nada além de uma alma romântica, e um pouco de tragédia, mas adicionaria ainda Jane Austen, com Pride and Prejudice e o sonho irreal de felicidade conjugal. Somaremos aqui uma música de uma bela voz feminina, Aretha Franklin, chamada Chain of Fools. Quando ambos começam seus jogos, a história inicia do mesmo ponto. O desconhecido. Mas ambos evoluem com suas próprias crenças, e essas duas almas que estão cansadas de jogar os mesmo jogos e abaixam suas guardas, se reconhecem. Até que um inesperado acontecimento ocorre (aqui eu diria que os personagens estão saindo de suas zonas de conforto e seguindo na direção da cadeia do herói, é necessário aceitar a chamada pela aventura) e o inesperado os separa, ou os coloca em enfrentamento. Antes eram unidos pela força de atração, agora, cheio de suas dúvidas, cada um segue seu caminho, confrontando seus limites. Se você conhece a saga, saberá que terão altos e baixos. Ambos os personagens podem se tornar ou oponentes ou companheiros. O fato é que o ciclo de heróis e a noção da chamada de aventura nas relações virtuais hoje são semelhantes. Uma pandemia é capaz de transformar um mundo inteiro na forma de relacionar-se. Os jogadores hoje usam aparatos tecnológicos para manipular e simular situações. Hoje, essa saga pode ser mais escorregadia, é necessário entender mais a fundo as sutilezas do outro. Palavras e ações se confundem, pois na vida real, a interpretação fica óbvia, o virtual permite ser ainda mais imaginativo. 

O que são dados para esses jogadores eu não sei, os motivos são desconhecidos. O fato é que a vida está ficando mais intensa, mais valiosa, mais cheia de expectativas. A ansiedade e a emoção nem sempre fazem bem, mas são as responsáveis por manter as borboletas no estômago, então eu como autora escolho deixar emoção e antecipação rolarem livres e soltas. Apenas os atento, jogadores, que suas jogadas serão notadas, avaliadas, reveladas, ditas em voz alta, repetidas antes de serem reais. 

Eu não vou mudar pra satisfazer leitor nenhum. Eu digo: vão a merda.

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