Deitada. Atirada sob uma cama. Visão de dentro: explodindo. Mais uma vez. Mais uma vez… explode. Segunda chance. Angustiada com os sentidos. Sentidos soltos.
– Sentimos muito. Eu não posso fazer nada.
Ninguém pode afinal. Eu posso esperar. Eu posso ser forte. Não, eu deveria. Eu não sou forte, gastei minhas fortalezas construindo minhas asas imaginárias e elas, bom, elas são sensíveis aos ventos.
– Anita, tudo vai ficar bem.
Eu não sei de onde tu tira esta mentira. E sim, é uma mentira! Nunca nada fica bem. Tu apenas esquece que algo está errado. Tudo sempre está errado. Tem gente morrendo ali do lado.
– Eu não me importo.
Bom, eu sinto. Eu me importo. Eu absorvo.
– Tu não deveria ser assim.
Eu já sou de várias formas, o que mais eu deveria ser?
– Não deveria ser.
Sempre é algo comigo.
– Tu é egocêntrica.
Eu sou.
– Tu imagina muito. Relaxa.
Eu rio. Só que é um riso fraco, não preenche.
Lacunas: meios e vãos. Vejo vagar pessoas vãs.
Saltos altos, canelas fracas.
Hoje até caneco está virando plástico.
– Draminha, logo depois o Sol nasce…
Enquanto isso me atiro aqui e choro. Pelo menos o choro esta congruente com minhas paredes: úmidas de suor.
-Faz frio ali fora.
E calor aqui dentro, que tal abrirmos a janela?
Abri. Te vi ali, parado, a luz cortava tua silhueta. Bonito.
Congelar o tempo: Ok.
Memorizar a cena: Ok.
Armazenar em arquivo confidencial: Ok.
Te ver deixar o ambiente… me botei com a cara toda no travesseiro. Senti o tecido com cheiro de violetas. Saudades das flores. Corri no parapeito: vi o quintal. Mato.
Droga, nem aqui conseguia ar.
-Busquei pra ti um café.
Parei de tomar café, dizem que me faz mal – além de mim mesma.
– Menos… anda, tome um pouco.
Acho que até aí estaria indo tudo bem, mas derramei toda a xícara no teu carpete.
Foi neste instante que tu percebeu que não teria volta. Me deixou, queimada e sem café.
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