Eu não estarei aqui para sempre, disse a velha senhora. Um dia irei morrer, disse ainda, antes de descobrir sua doença. Não quero esperar a vida toda para ser feliz, mas até hoje não sabemos se foi de fato. Isso seria mais apropriado naquela lápide, uma vida toda de possibilidades de ser feliz, mas a única coisa que fazia sentido após a morte era a natureza que mantinha sua rotineira maneira de existir e frases clichês como "jaz aqui um belo espécime humano". Assim, se tivéssemos a capacidade de ver além do que nossos olhos humanos são capazes, teríamos percebido que havia uma pequena borboleta por sobre as flores daquele enterro.
Abriu as asas coloridas, belas asas, e esvoaçou a cabeça de três cabeças de batatas, grandes demais: a cabeça número um era grande, curvada e cheia de depressões, como quando vemos um vale em longa distância. Parece ter algo naquela cabeça, mas não víamos por completo. Quando a borboleta passou pela segunda cabeça, estava tranquila, a imagem era serena, dava tranquilidade. Mas tão logo se apaziguou que se entediou, paisagens lisas demais a deixavam sem nenhuma variedade. A terceira cabeça, um belo exemplo de como as coisas deviam ser, nem lisas nem onduladas, mas quando ela chegou perto... a borboleta percebeu que gotejava dela um líquido que estragava todos seus sentidos. A velha borboleta, cansada, desistiu de voar. Ficou parada por um tempo sobre seu galho favorito. Aprendeu a se agarrar com força nas folhas, seus pontos de segurança quando chovia. Descobriu lugares nunca antes vistos na sua casa. Mas um dia, entediada novamente com a monotonia de sua rotina, ela entrou no próximo vento que batia e esticou suas pequenas asas. Que coisa mais sublime! Pensou a borboleta, adoro voar! E depois de um tempo, voando livremente, percebeu que o vento fora longe demais!
Parada agora diante de um lugar estranho, com pessoas estranhas, a pequena borboleta se via completamente perdida. E enfim, pronta pra voar mais e encontrar um novo lar.
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