Um espinho estava balançando por aquela caixa esquecida, caindo... Uma caixa esquecida dentro do armário, um propósito simplório dado a ela, guardar e reservar os incontáveis espinhos da roseira que um dia fora a mais bela do bairro. Foram 16 anos naquele precipício. E agora ela cortava galho por galho. E os juntava em grandes montes por sobre a mesa da sala. Achava que conseguiria até o fim da semana permanecer lúcida, mas os espinhos a tonteavam como quando tomamos um grande gole de licor, tomada às pressas, causa danos. Acredito que apenas pequenas pétalas teriam ajudado ela a não se mutilar, mas ela evitava até isso. O poder de uma roseira na mão de uma mulher é simplesmente inimaginável. Aquela roseira em específico continha algo mais que especial. E aquela mulher cortava os galhos. Todos eles. E de cada um, ela retirava seus espinhos e os guardava dentro da caixa, colocando papel seda por sobre camadas, selecionados para impressionar qualquer um que venha se aventurar e perguntar. Um belo espécime de roseira, uma bela espécime de caixa. Um belo incongruente de calos em suas mãos.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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