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O vento silencioso

 Antes de tu me conhecer eu era uma grande pessoa: vivia sussurrando no ouvido da sorte, algo como... tu estará onde o vento te levar. Hoje, porém, acordo do lado esquerdo da cama e o restante do meu corpo, salvo o coração, está gelado. Gelo é algo que nos carrega os sentidos e, penso, será minha gana ser gelada até os confins da vida? Será que me veria tão azulada? Macabra? Ontem comi uma laranja, amarga ou azeda. Nunca sei diferenciar. Mas o gosto me arranha a garganta. Sina de vida, eu vejo isso o tempo inteiro, a morte do meu gosto pelo outro. 

E me decido descer o apartamento, me agarro no corrimão. Meus dedos nunca mais irão desgrudar dali. Um momento em que me equilibro. Eu caio e encontro, todo o meu fundo, negro, comprido, frio. O fundo do poço. O alto, o ápice da montanha que me congela. A ânsia que me tira o sangue na madrugada de janelas abertas. O cão que uiva pela morte através da lua.

Um único suspiro e minha mão, que agarra com força o pedaço de metal, escorrega e num baque silencioso, eu desfaleço sem ninguém perceber. Um êxtase não ouvido. O prazer nunca visto. A languidez, finalmente, expressa pelo fio vermelho que transborda andares.

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