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O rei decapitado

Ela sentou delicadamente, cruzou as pernas, suas coxas saltaram os músculos. Ele observou as carnes pularem sobre a cadeira. Ela não conseguia sentir-se confortável. São camadas finas, mas te sufocam feito toneladas, apertando as células cheias de gordura. 

Ela queria correr dali, mas era sua chance. Este negócio a faria receber um bônus no salário. Um jantar, um contrato assinado. Ela só precisava suportar até o fim. 

O que tu tens de fazer, é apenas aceitar meus termos. Ele disse, a encarando, enquanto ela bebericava sua água com limão e gelo. Ela levanta os olhos meio castanhos claros, meio verdes nos dias cinzas. Ele não a reconhecia ali. Uma terceira cor nos olhos dela o alertou.

Eu jamais me curvaria a tuas exigências, senhor. Saiba que antes de assinar quaisquer termos, preciso experimentar os produtos. Minha empresa não está disponível à especulação. Ela, impassível, diz sem seriedade, sorri logo após o alertar.

Me fode, tu não tens como criar termos, tua empresa está falida!

Ela até está, mas não é isso que me fará negociar facilmente contigo. Um rei está disponível, com ou sem cabeça: tu está no controle, até não mais estar... Mercados mudam tanto quanto teus desejos. E de reis, o mundo está cheio, e eu cresço a cada cabeça cortada. 

Estou ciente. E meu pescoço não está a prêmio.

Será mesmo? Ela pergunta, levantando da mesa, deixando sobre a mesa um tecido pequeno e vermelho amassado, indecifrável. 

A porta abre e fecha logo atrás de sua sombra.

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