Pular para o conteúdo principal

Sem fôlego e vermelho

Como foi seu momento, na hora que descobriu que sua garganta iria parar de permitir o ar passar para os pulmões? Como você sentiu-se após perceber que ele te encarava, te segurava, enquanto continuava sua respiração frenética por cima de ti, vermelho, cada vez mais vermelho, ele ficava perto de ti. Com olhos vermelhos. Ou seria seu cérebro ficando vermelho, devido à falta de circulação? E tu iria o informar um dia? Tu contaria um dia? Ou diria, olá, eu sei que mal começamos, mas eu tenho que te dizer, não estou pronta ainda. E olharia no rosto dele, peludo. E diria, desculpe, preciso desabafar. E sei que carrego demais. E sei que não é fácil achar alguém pra sorrir junto. E quando eu encontro, eu me sinto tão livre que deixo logo ir, como se fosse errado alguém de fato realmente querer ficar. "Tudo bem", eu repito, tudo bem, pois ele um dia de olhos vermelhos me disse, tá tudo bem, não conte a ninguém. E não, não foi um só que me disse, foram alguns durante a vida. "Tá tudo bem" ou versões similares, como "vai ficar tudo bem", "tudo acaba bem", "tu está bem assim". E agora me vejo uma palhaça acreditando que está tudo bem mesmo. 

Músicas fofas não fazem mais sentido. Meu macacão manchado de tinta me diz que a cor vermelha se repete. Como uma bandeira. Deixe ir. Deixe ir. Vai ficar tudo bem quando todos se forem. Ninguém ficará, tudo bem. E a insegurança que se apossa da garota, deixa a mulher forte demais. E todos aparentam dizer, como ela é segura. Uma muralha. Ela não se importa. Tudo bem pra ela. Dizem. Dizem ainda que ela sempre foi assim. 

E a sensação da falta de ar toma conta quando ela decide correr. E corre com força até a musculatura da perna doer. E quando seus tênis começam a desmanchar por sobre o chão... Um dia enfim entenderia o motivo de Forrest correr. Um passo após outro, vendo tudo com clareza. Ou seria um não ver? Quando ela corria as nuvens se dissipavam. A sensação de não pertencimento sumiam. Todas as caixas explodiam. E só existia um, dois, três, repete, mais uma quadra. E tudo passa rápido demais, até ficar zonza. Até perceber que não se fala inglês em Paris. Até que percebe que nunca saiu do lugar. Lá se vê, perdida. Perdida. Como nunca antes, até ver os olhos verdes, azuis e castanhos. Um. Dois. Três. 

Era sol de fim da tarde. E ele dizia, não conte. Nosso segredo. Em outro momento o outro dizia, tu não viu nada, entendeu? E outro ainda diria, tá tudo bem, é normal essa dor. E ela corria daquilo. Como diabo que corre da cruz. Nunca parando, pelo resto da vida, de correr.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esteira

Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.

Romântica

Eu sou romântica  Com meu amor Esperando no quarto em fronte com taças e castiçais  Não sou aquela romântica Quando eu vejo atravessar ao longe na rua segurando mãos com sua alma gêmea e eu vejo por distância  você caminhando para longe dela E desaparecendo Nos meus sonhos

Não somos amigos

 Eu não consigo ser tua amiga. Eu juro, tentei. Eu prefiro ser nada. Aliada a mim. E eu gosto das lembranças. E eu gosto daqueles momentos, tão tranquilos. E tu engoliu a voz. Buscou paz. E eu, observo aqui, contente por ti. Tu merece toda paz do amor tranquilo. E eu? Eu aqui, imagino, se poderia ter sido.