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Bota vermelha

Um vinho, duas taças e um alerta no celular: "não esquecer de gastar o tempo com mentiras convincentes". Ela olhou a tela reluzente e sentiu-se como uma popstar: notificações feitas para agradar o ego. E quando a noite chegou, ela sentou na beira da cama, colocou a meia-calça preta, sentindo a pele recém hidratada e, demoradamente, se vestiu. Olhou no espelho o zíper se fechar. Vestido apertado, delineando o corpo. Os cílios ficou exuberante, como uma samambaia. Então, após perceber que estava treze minutos atrasada, pegou sua revista de Peixes Mortos, consultou algumas táticas para atrair o seu próximo Peixe Morto. Bota vermelha, unhas afiadas. Pronta para a guerra. Foi parar numa calçada movimentada algumas quadras depois do Uber a deixar na esquina do prédio Elefante. Ficou rodando sua bolsa, pequena, olhando para as caminhonetes que passavam. Cada qual maior que a anterior. Homens passavam devagar. Mulheres viravam o rosto, como a etiqueta de rivalidade demanda. Finalmente encontrou a Ferrari preta. O rapaz de vinte e tantos anos baixou o vidro e (convenhamos, o desnecessário óculos escuro) falou com sua voz rouca: 

- Hoje tu vai dançar, nenê.

Ela riu, empolgada, finalmente!

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