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A demência

O jovem Werther um dia foi lido pelo meu professor de literatura: de maneira enfática, ele subia nas classes, gritava e se emocionava, era o desespero do desamparo daquilo que lhe faltava ao jovem personagem. Eu lembro que uma cena desse livro, ou talvez de outro, mencionava com sensualidade o movimento de uma cortina, e como o ar quente de uma simples noite luminosa, dava a sensação de paixão ao texto. Lembro como esse professor, ou outro, que as leituras e interpretações dos textos começaram a se amadurecer. Uma cortina agora poderia demonstrar curvas e vai e vens que vão além da figura objeto. Lembro bem que foi assim que me apaixonei, silenciosamente, por um colega da classe. Todos os dias ele sentava ao lado direito de mim, mas uma fileira a frente. Obviamente percebia que seus cabelos ondulados e escuros estavam cheios de um creme que até hoje lembro como lavanda (e bem poderia ser qualquer outro, já que meu olfato nunca fora dos melhores, felizmente). Comecei então minha paixão pelo pescoço do jovem que até hoje chamo de Cachos de Anjo. Nunca irei lembrar seu nome, apesar de ver repetidas vezes a placa do carro do seu pai, um Jeep modelo Grand Cherokee verde  musgo. Lembro das covinhas do seu rosto ao sorrir para mim (às vezes com um olá ou bom dia). Na verdade, eu imagino, hoje, que ele me desse oi, bem provável que boa parte dessa memória seja vaga demais para ser real. Mas eu realmente lembro do seu sorriso com dentes alinhados e brancos, logo cedo após o almoço, onde ele sempre sentava ao lado da mesma garota, a qual muitas vezes lhe dava as mãos ao sair acompanhado com risadas internas. Um dia me imaginei jogando-a de um penhasco ou gritando desesperada para ele me notar, seu nome inventado. E diria como era belo, o pescoço, numa curva perfeita para eu abocanhar e retirar todo seu sangue.

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