Hoje eu estava feliz de finalmente acordar sem as marcas no meu olho. Foram quatro anos de indiferença e controle. Auto-controle eu digo. Pois apesar de estarmos no século de mais de uma década de progresso, ordem continuava a mesma: silencie seus desejos, suas forças e aguardem o próximo comando. As pessoas na noite anterior festejaram em silêncio, como que com medo que seus desejos fossem mortos pela intolerância e violência. A violência pairava pelos ares de cada esquina e o cheiro dos porcos ficavam mais e mais transparentes. Se eu seguisse os meus instintos ficaria presa para sempre. Eles não perdoavam. Eles não desejavam que a igualdade fosse reestabelecida e respeitada. Respeito, aliás, que respeito? A voz de mitos eram a mesma, calar os diferentes. Talvez todo esse circo era propício ao filme que viria a seguir. BANG BANG, e não eram tiros, eram batidas na minha porta. Acho que ele me descobriu aqui, saio correndo pelo corredor e abro o alçapão. Me escondo atrás da caixa de madeira, empoeirada por um tempo que passou num silêncio tranquilo. Eu gostava de manter essa parte de casa isolada, o ar ficava diferente. O cheiro do calor no verão e do frio do inverno impregnava o ar no espaço, sendo quase perceptível as partículas no ar. Acho que eram vozes que vinham lá de baixo, mas ele não me viu. Ele não me viu…? E respiro fundo. Seria uma segunda onda de medo agora? Não, era apenas as trovoadas. E as luzes que antecipavam os estrondos. Era uma guerra no céu, uma guerra na terra e um caos interno. Me disseram, fique. Internamente será mais fácil para você . E aqui fiquei, isolada… ou quase. E depois dessa noite, depois dessa noite e desses alardes, será que devo me manifestar e pisar no barro? Olho para minhas mãos e vejo o que fiz. Estava no meio do campo agora. Era um baque perceber que me movimentei rapidamente. Seguro minha cabeça entre as mãos sujas de algo vermelho. Vermelho sangue… Será que finalmente eu quebrei ass correntes daqueles escravos, ou será que era eu que começava a delirar sonhos?
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
Comentários
Postar um comentário