Sete horas atrás, eles não se conheciam. Ele ficou mudo ao seu lado, olhando o incrível anúncio de novas rotas pela metade do preço: "Viajem assim, só em Marte!". A outra pessoa, entretanto, folheava a incrível revista de equipamentos para pesca, agora lia "Como enterrar os restos do seu peixe. Guia prático em dez ações." escrito por P. Sá. As pessoas achavam bem normal não se falarem, era bem normal nem mesmo dizer bom dia. O bom dia era quase uma ofensa, imagine. O mundo era feliz assim, portanto não fique espantado. Aliás felicidade era relativo e contato humano era feito somente pelo parto de alguém, quando a mãe teria de dar o primeiro tapa na criança e depois abandoná-lo na primeira esquina que visse. Felicidade era quando algo bom, ruim ou péssimo acabava. Os olhos das pessoas só enchergavam as coisas ruins, portanto era normal ser feliz por coisas tristes. O sábado era igual a segunda-feira, todos com caras cansadas. O domingo, com aquela vontade de se matar... passava para a quinta-feira. Hoje é quinta-feira para os dois. Eles estavam sentados, em seus bancos de couro, esperando a próxima parada. O destino? Lugar Algum. A melhor rota para quem quer se perder sabendo apenas um caminho. Volta? Não se planejava. Então aconteceu algo incrível, a pessoa que lia a revista, a fechou espantada e indignada, falou alto:
- Não poderia enterrar meu peixe assim, jamais! Tu sabes o número do PROCON?
- Não, por...? - ele, espantado.
- Imagine, eu compro esta revista para pesca, e eles admitem que a melhor forma de enterrar um peixe é vivo! Como isso?
- É triste mesmo, não poder ver ele morrer às minguas... - disse ele, friamente.
- Sabe, o mundo está virado mesmo. Eu pego um peixe é pra matar, não pra deixá-lo vivo! O enterro é algo insignificante, qualquer um pode ir lá depois e deixar uma rosa branca pela paz do coitado.
Eles continuaram a conversa, que acabou duas horas depois, então ficaram em silêncio. Os assuntos estavam morrendo, igualmente ao peixe, a pessoa da revista gostava de matar todos aos poucos, mas como era quinta, decidiu fazer isso com ela mesma. Assim saiu da rotina. Ele a olhou, chocado. O mundo realmente era feliz com as tristezas, pensou. A levou para Lugar algum, e esperou pela noite da volta. Nunca voltou.
- Não poderia enterrar meu peixe assim, jamais! Tu sabes o número do PROCON?
- Não, por...? - ele, espantado.
- Imagine, eu compro esta revista para pesca, e eles admitem que a melhor forma de enterrar um peixe é vivo! Como isso?
- É triste mesmo, não poder ver ele morrer às minguas... - disse ele, friamente.
- Sabe, o mundo está virado mesmo. Eu pego um peixe é pra matar, não pra deixá-lo vivo! O enterro é algo insignificante, qualquer um pode ir lá depois e deixar uma rosa branca pela paz do coitado.
Eles continuaram a conversa, que acabou duas horas depois, então ficaram em silêncio. Os assuntos estavam morrendo, igualmente ao peixe, a pessoa da revista gostava de matar todos aos poucos, mas como era quinta, decidiu fazer isso com ela mesma. Assim saiu da rotina. Ele a olhou, chocado. O mundo realmente era feliz com as tristezas, pensou. A levou para Lugar algum, e esperou pela noite da volta. Nunca voltou.
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