A cidade corre na tua voz e, com rapidez, os estalos de uma chuva sobre o telhado e a fumaça de teus lábios encostam minha face. Languidez me apossa. Sobreponho meus ritmos sobre a tela. Uma ou outra volta no disco e a ranhura estala como fogo. Me sento com a xícara na mão e o barulho incessante lá fora me adentra o peito. Alguém tentou forçar a porta. Ontem eu acordei no mundo de determinação. Hoje eu acordei achando que já conquistei tudo. Amanhã poderei morrer. E a voz me conta tudo isso pelo sofrimento harmônico. E eu não entendo a língua, mas é mulher e é triste. O peito não nega, um amor que, talvez, foi abandonado. Tu só viveu isso, disse ele. Não confirmo, pois é mentira, mais abandonei que fui abandonada. E talvez em algum nível inconsciente esteja correto. Mas a solidão me faz forte, penso. Minha companhia me basta. E hoje, anos luz longe de qualquer certeza, eu sei que minha flutuação é constante e inquestionável. Eu me decreto parte das nuvens, como o ar que carrega o vento e como o assovio que causa o arrepio na pele. E não, não é mau agouro. É minha estranheza do que é dado.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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