Rodopiei. Girei. Voei entre ares. E cantei. Cantei em uma voz suave e delicada. E logo abri as asas e fui. Os galhos, secos, rodeavam onde eu mais visitava. Uma janela esbranquiçada que foi pintada recentemente. Eu me encaixo entre os galhos, pulo, rodopio novamente. Se eu pudesse, rolaria, mas não fui feita para rolar. Apenas pular suavemente entre os galhos. Eu me alegro quando ela abre a janela. A observo, de canto de olhos e, penso, ela é tão feliz sempre... o que aconteceu hoje? E canto novamente, para chamar a sua atenção, mas devagarinho, para não a assustar. E ela para no meio da janela, coloca suas pernas sobre o parapeito, e estende a mão para eu poder a bicar. Seu corpo e meu bico remontam a cena de Michelangelo, dois mundos por uma curta distância...
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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