As cartas estavam guardadas dentro do roupeiro. Colocadas em ordem alfabética. A cada letra, uma folha suave de seda separava a fileira. Eu ficava abalada toda vez que via esta ordem, pois no fundo, eu me sentia caótica. E a ordem chegava como para refletir o contrário. "Tu é contradição, moça", disse ele de maneira muda. Ele é viciante. Me disse que eu era esquisita. E ficava altas horas me olhando. E me deixava encabulada. E eu sumia em silêncios nunca ouvidos.
Hoje acordei de manhã cedo, mas era meio-dia. Foram mais ou menos 18 horas de voo e ainda permaneço nesse espaço de ostentação e transporte. Me transporto para outros rumos, novos sabores, e ainda fico olhando embasbacada a janela do avião. Onde fui me meter? Pergunto como, sem querer saber a resposta, não sei mesmo... Não sei se foi um desejo de manter-me viva ou de provar a mim mesma que sou capaz de realizar os sonhos, por mim, ninguém mais. Acredito que seja isso. E fico feliz enquanto os pacotinhos que tanto corria atrás, agora os mantenho separados, etiquetados e bem longe para não repetir certas doses. Pacotes de embalagens conhecidas nem sempre são as melhores.
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